Alex Viana fazia a considerações finais. Dizia que o Bruno Cézar é homem trabalhador, que tinha dois empregos para juntar dinheiro e comprar uma casa para mãe. “Desde que eu peguei seu caso, eu fico comovido, porque poderia ser eu sentado no banco dos réus”.
A defesa alega que Bruno matou para se defender de agressões verbais e físicas sofridas por Emerson durante uma briga. “Emerson acabou com a vida do Bruno. A única coisa que esse menino fazia era trabalhar 14 horas por dia para juntar R$ 30 mil e dar entrada em uma casa”.
O advogado sustentou ainda que briga entre os colegas de trabalho se estendeu até o limite e que Bruno “perdeu a cabeça”, quando Emerson passou a ofender a figura mais sagrada no mundo para o cliente: sua mãe. “Depois de passar três dias batendo, batendo, batendo, ele xingou o sagrado, a mãe. Então, esse menino pega a arma e dá dois disparos”. “São circunstâncias, coisas que acontecem na nossa vida que nos obrigam a reagir”, reforçou o Alex Viana, na tentativa de comover os jurados.
Promotor Douglas Oldegardo (lado esquerdo) ao lado do juiz Aluízio Pereira dos Santos, durante o julgamento. (Foto: Marcos Maluf)
Bate-boca
Em determinado momento do discurso, para sustentar a tese de que o cliente é um sobrevivente e que as circunstâncias da vida o levaram a ter uma arma para se defender, o advogado passou a tocar no nome do promotor e também do juiz. “Dr. Douglas, nem todo mundo tem a vida que você tem, o salário que você tem, que o Dr. Aluízio tem. Ele mora na Moreninha. Onde você mora?”, questionou.Foi quando o promotor pediu o direito à palavra e por ter sido citado, o magistrado concedeu. Douglas passou a dizer que foi músico de boteco antes de se tornar advogado e promotor. “Tocava 8 horas por noite para ganhar 25 reais. Saía de carona com garçom e nunca na minha vida passou pela minha cabeça comprar uma arma ilegal para me defender. Não me meça pela régua do assassino que você está defendendo”.
O advogado retrucou: “não chame meu cliente de assassino” e o promotor continuou: “assassino, assassino, assassino”. Foi quando o debate tomou proporção descontrolada. Os dois saíram de suas posições, passaram a se encarar, “deram de dedo” um na cara do outro.
Douglas chegou a dizer que Alex Viana era “advogado do PCC” e a chamá-lo de “canalha”. “Eu sei da sua moral”, afirmou o promotor encarando o responsável pela defesa do réu.
O juiz Aluízio Pereira dos Santos pediu reforços, mas também se irritou. Quando os jurados foram tirados do plenário disse: “agora, se quiserem ir lá para fora, vocês podem trocar soco”. E completou: “não fiz magistratura para separar briga de homem. No máximo, eu chamo a polícia, talvez”.
O magistrado disse ainda que vai comunicar o ocorrido ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e a OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul). “Vocês vão ter que dar explicação à chefia de vocês, eles que vão avaliar se isso é correto ou não. Muito desagradável, muito chato”.
Em breve conversa com a reportagem após o ocorrido, Douglas Oldegardo disse que essa é a segunda fez em 800 júris que já fez na carreira que se levanta para interferir em fala de advogado. A primeira vez foi em 2001.
Após alguns minutos de suspensão, o julgamento foi retomado. A plateia é composta por integrantes da família e amigos do réu, cerca de 20 pessoas. Durante a pausa, os parentes e amigos do réu deram as mãos e rezaram pela absolvição de Bruno.
Familiares e amigos de Bruno Cézar rezando durante a pausa no julgamento. (Foto: Geisy Garnes)
A morte
O crime aconteceu na noite do dia 13 de agosto do ano passado, em frente à lanchonete onde os dois motoentregadores trabalhavam, na Avenida Mato Grosso, região central de Campo Grande.Além de dividirem o delivery de lanches, réu e vítima também estavam empregados juntos em farmácia, onde faziam entregas durante o dia. Conforme a denúncia, no dia anterior ao crime, Bruno não foi trabalhar na lanchonete e deixou Emerson irritando por ter ficado sobrecarregado. Os dois discutiram por mensagens de WhatsApp.
No dia 13, Bruno perguntou para outro colega se a vítima já estava na lanchonete. Quando recebeu “não” como resposta, avisou: “É bom que ele não apareça aqui hoje”. Logo que Emerson chegou para trabalhar, os dois começaram a discutir novamente.
Ainda conforme a acusação, Bruno sacou a arma para intimidar o colega, mas guardou na mochila. Os dois passaram a trocar socos, mas foram separados por outros funcionários. Foi então que o réu pegou novamente a arma e atirou três vezes em direção a Emerson. A vítima foi atingida no quadril, caiu no chão e depois, na cabeça. Ele morreu minutos após dar entrada na Santa Casa.
Em seguida, Bruno fugiu em uma moto CG Titan azul. Com a prisão preventiva decretada no dia 18 de agosto, após depoimento, o acusado se entregou à polícia no dia 19. No dia 9 de agosto deste ano, o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, decidiu mantê-lo preso até a nova revisão da preventiva, em 11 de novembro, isso se ele não sair livre do julgamento.
Por Anahi Zurutuza e Geisy Garnes
Fonte: www.campograndenews.com.br
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