O conselho de carreira mais valioso, segundo a melhor advogada do mundo

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bit.ly/3jqYFjd | Com menos de 40 anos, a advogada Ana Paula Martinez já conquistou duas vezes o prêmio de melhor advogada do mundo, na sua área de atuação: concorrência nacional e internacional. O “bicampeonato” na competição, promovida pela publicação britânica Global Competition Review (GCR), foi em 2016.

Mas, o prêmio, atribuído à combinação de dedicação e competência aliada à abertura para novos horizontes, é apenas uma das conquistas de uma de sucesso. Aos 26 anos, ela chegou ao posto de Diretora do Departamento de Proteção e Defesa Econômica (DPE), do Ministério da, onde são feitas investigações de infrações contra a ordem econômica no Brasil. Ficou lá de 2007 a 2010 e seu trabalho na repressão a cartéis, teve reconhecimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE).

A dedicação acadêmica foi preponderante para impulsionar sua trajetória, diz Ana Paula. Formada pela USP, ela fez mestrado e doutorado na faculdade do Largo de São Francisco, onde percebeu que o ambiente acadêmico ainda é dominado por homens, embora o ingresso na área de Direito seja mais equilibrado. “Essa situação também se repete no Judiciário e nos escritórios de advocacia”, contou. Ações afirmativas e políticas públicas voltadas a igualdade de gênero são caminhos para solucionar a questão, segundo ela.

Atualmente sócia em um escritório de advocacia na área empresarial, ela também presta consultorias para organizações internacionais como o Banco Mundial e a divisão de comércio e desenvolvimento das Nações Unidas.

Nos próximos dias 4 e 5 de novembro, vai fazer simulações de tribunais com formandos e recém-formados em Direitos o “Conexão Mercado Jurídico”, evento online gratuito que conecta jovens ao . As inscrições para participar vão até o dia 7 de outubro, pelo site da Fundação Estudar, responsável pela iniciativa.

Para quem está começando na profissão, seu melhor conselho para ser um advogado de sucesso se dedicar a resolver problemas e apostem em bias conexões de carreira. Para as jovens ela indica que busquem grupos de networking feminino. Confira a entrevista:

O que você fez na sua carreira e fundamental para conseguir conquistar duas vezes o prêmio de melhor advogada no mundo na sua área, tendo menos de 40 anos?

Acredito que tenha sido um misto de capacidade, foco, amor ao desconhecido e sorte. Sempre me destaquei academicamente, mas isso não é suficiente para uma carreira de sucesso. Precisamos estar abertos a oportunidades, ter paixão pelo que faz e, claro, estar no lugar certo, na hora certa.

Você vai conversar com jovens no evento da Fundação Estudar, qual o melhor conselho de carreira que pretende dar a eles. Por quê?

Acho que o mais importante é se dar conta que o mundo acontece fora de nossos pensamentos. Muitas vezes as pessoas ficam fazendo mil planos de carreira, de estudos, mas vão deixando para depois, por receio ou conservadorismo.  Deixar-se “trancar em uma biblioteca”, em um ambiente que incentiva a reflexão, é muito importante para o bacharel em Direito, mas tão importante quanto é se dar conta de que as oportunidades se apresentam essencialmente por intermédio da interação com as pessoas. O conceito de networking no Brasil ainda tem certa resistência cultural, em especial na advocacia. O investimento em relacionamentos é visto como se fosse um jogo interesseiro, quando na verdade é uma oportunidade de criar valor para as duas partes. Expor-se a oportunidades e pessoas é a forma mais eficiente de acabar fazendo o que você gosta.

Como acelerar o crescimento de carreira no Direito?

No Direito, há múltiplas oportunidades de acelerar a carreira, por meio de estágios temporários, concursos de monografia, intercâmbios, publicação de artigos, participação em eventos e obtenção de títulos. Por fim, para aqueles que querem ser advogados, meu melhor conselho é: sejam resolvedores de problema.

Qual o momento mais desafiador pelo qual já passou na sua carreira ?

Quando fui Diretora do Departamento de Proteção e Defesa Econômica (DPE), do Ministério da Justiça, aos 26 anos. O órgão era responsável por todas as investigações administrativas por infrações à ordem econômica do Brasil. Foi um grande desafio, nas suas diferentes vertentes: formulação de política pública, gestão de processos e gestão de pessoas. Nos quatro anos em que fiquei à frente do órgão, tivemos reconhecimento internacional, inclusive da OCDE, das ações de repressão a cartéis, coordenação com as autoridades criminais e ações de promoção da concorrência que fugiram do ordinário, como campanhas em aeroportos e a criação de Dia Nacional do Combate a Cartéis (celebrado no dia 8 de outubro)

Qual o caso que mais a orgulhou ao longo da sua trajetória?

O caso do qual mais me orgulho foi em 2009, relacionado ao fim da exclusividade entre a Visa e Visanet, hoje Cielo, que permitiu a criação de uma dinâmica concorrencial em um dos setores mais importantes do Brasil (o de adquirência, muitas vezes representado pelas famosas “maquininhas” de cartão). É muito gratificante ver os benefícios que podem ser capturados pelo consumidores decorrentes de uma ação para corrigir a estrutura de um mercado.

Como você enxerga a questão das mulheres na profissão? 

Ainda há muito a ser feito. Por exemplo, na Faculdade de Direito da USP, uma das mais tradicionais do Brasil e onde eu cursei graduação, Mestrado e Doutorado, o ambiente acadêmico é dominado pelos homens, apesar do ingresso na carreira ser equilibrado entre homens e mulheres. Em quase 200 anos de existência apenas uma mulher chegou a ser Diretora. Segundo dados recentemente divulgados, dos 152 professores, apenas 27 são mulheres (sendo apenas 4 titulares, contra 40 homens).

Essa situação se repete também no Judiciário e no ambiente de escritórios de advocacia. Em 2018, Resolução do CNJ estipulou que os tribunais devem adotar medidas para assegurar a igualdade de gênero. Basta ver a composição de nossos tribunais superiores para concluir que há falta muito para chegarmos em uma situação satisfatória: apenas 2 dos 11 Ministros do STF são mulheres (Ellen Gracie foi a primeira, em 2000). No STJ são 6 mulheres em um total de 33 Ministros – curiosamente a mesma proporção do STF (18%). Nos escritórios, ouso dizer que essa proporção se repete para os cargos de sócios de capital.  E apenas em 2017, com Raquel Dodge, tivemos pela primeira vez uma mulher como Procuradora-Geral da República.

Por que isso acontece e quais os melhores caminhos para resolver, na sua opinião?

Acredito que haja vieses inconscientes e uma aplicação da teoria das vantagens cumulativas que prejudica a ascensão da mulher. E temos também que evoluir para darmos, como sociedade, suporte à fase da maternidade. A mulher não precisa congelar a carreira porque decidiu formar uma família. Talvez precisemos da intervenção do Estado para igualar as condições entre homens e mulheres (como, eg., fazer com que a licença paternidade seja obrigatória).

Que dicas você daria especificamente para jovens mulheres para enfrentarem um ambiente profissional e acadêmico majoritariamente masculino?

As principais são: não se sentir intimidada por ambientes masculinos e buscar grupos de networking feminino, como o grupo Jurídico de Saias, formado em 2009. 

Por Camila Pati
Fonte: claudia.abril.com.br

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