Cidadania afasta Fernando Cury após parlamentar ser gravado passando a mão em deputada Isa Penna na Alesp

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bit.ly/3gYT2sh | O deputado estadual Fernando Cury, que foi gravado passando a mão no seio da deputada Isa Penna (PSOL) durante sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) na quarta-feira (16), foi afastado de seu partido Cidadania nesta sexta-feira (18).

Em comunicado, o Cidadania afirma que a Comissão Executiva Nacional decidiu a afastar o deputado "de todas as funções diretivas partidárias, em todas as instâncias, bem como de todas as funções exercidas em nome do Cidadania, inclusive junto à Alesp".

O afastamento vai durar até a conclusão do processo no Conselho de Ética do Cidadania, segundo o presidente do partido, Roberto Freire. Em nota, o partido afirma ainda que Freire levou em consideração a gravidade do caso. A primeira reunião do conselho para debater o caso de Cury deve ocorrer às 20h30 desta sexta-feira.

Pelo regimento interno do Cidadania, Cury terá prazo de 8 dias para apresentar sua defesa após recebida a denúncia do conselho. Entre as sanções que o grupo pode aplicar está a expulsão do deputado do partido.

Deputada afirma que Cury estava bêbado

A deputada Isa Penna disse nesta sexta-feira (18), durante coletiva de imprensa, que Fernando Cury estava bêbado ao passar a mão no seio dela durante sessão legislativa na quarta-feira (16).

Nesta quinta-feira (17), a parlamentar registrou um boletim de ocorrência contra o deputado por importunação sexual.

A deputada também denunciou Cury por decoro parlamentar e pediu a cassação do mandato do parlamentar ao Conselho de Ética da Assembleia. A denúncia só será analisada em fevereiro, depois do recesso parlamentar.

"O ser humano estava completamente bêbado. Isso ficou completamente claro, ele estava bêbado. A bebida não é o problema, tirando que a gente estava lá votando. Mas pode ter influenciado porque ele foi tão burro que se esqueceu que estava sendo filmado. Quando eu vi o Alex tentando segurar ele, ele devia estar bêbado para estar tão burro e fazer isso na frente de Câmara, mas acontece. Ele estava com cheiro de álcool, isso eu posso atestar, ele chegou bem próximo de mim, como vocês viram."

Vídeo gravado por câmera da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) mostra o deputado passando a mão no seio da parlamentar durante sessão extraordinária para votar o orçamento do estado na noite de quarta-feira (16).

De acordo com Isa, alguns deputados estavam bebendo uísque no corredor durante a votação.

"Não acho que isso seja determinante e isso tenha determinado a conduta do deputado, pode ter feito ele esquecer que tinha câmera no plenário. A forma que ele chegou por trás, me encoxando, ele poderia até ter continuado. Nojento.”

Isa Penna durante conversa com a imprensa nesta sexta-feira (18) — Foto: Reprodução

Durante a conversa com a imprensa nesta sexta-feira (18) Isa contou que não foi a primeira vez que foi vítima de importunação sexual e citou um caso de quando era assessora na Câmara Municipal.

"Eu me sinto pequena toda mulher que passa por isso e não tem consequência. A gente se sente pequena, subjugada, e ao mesmo tempo em que eu tenho já um couro grosso no sentido de que não é a primeira vez nem a décima que eu passo por uma situação como essa."

"Uma vez na Câmara Municipal tiraram foto na minha bunda. Eu estava abaixada pegando uma assinatura, eu era assessora na época, tinha acabado der vereador como suplente, tiraram foto da minha bunda e espalharam pela Câmara. Assim, é bizarro."

A deputada disse que deseja ser uma "ponte para que os homens parem com essa cumplicidade machista".

"Eu não vou compactuar com uma política absolutamente de linchamento de caça às bruxas e quero que o assédio pare. Esse caso deflagrou uma situação que as trabalhadoras vivem muito no ambiente de trabalho. A gente vive muito no transporte público, de você ser xavecada na rua o ‘fiu fiu’... Mudou muito, mas ainda tem muito. Senti que veio uma mudança pela luta coletiva das mulheres e os homens tiveram que se perceber responsáveis pela situação. Eu quero fazer essa ponte para que os homens parem com essa cumplicidade machista e se coloquem nas situações. Os deputados se mostraram solidários e tal, mas zero compreensão do quanto isso é estrutural e cotidiano em níveis diferentes. São homens que estão no poder político, então eu acho que são homens que têm uma sensação de prepotência (estou falando de uma parcela de homens), e em última medida se servem dessa lógica quando é mais fácil para eles."

Isa se emocionou ao agradecer o apoio recebido nas redes sociais e que se sente parte de um processo que é uma luta de todas as mulheres.

"Eu me sinto como qualquer mulher se sente, mas eu me sinto muito fortalecida e nesse sentido quero agradecer, reconhecer e destacar a presença e o espaço que os veículos de imprensa e as pessoas estão me dando. Isso me emociona muito porque me coloca uma luz no fim do túnel. 2020 foi um ano muito difícil e na penúltima sessão da Alesp acontece isso, então eu sei que a força coletiva da luta com mulheres é que tem capacidade de transformação real. Eu me sinto só parte de um processo."

A deputada também denunciou Cury por decoro parlamentar e pediu a cassação do mandato do deputado ao Conselho de Ética da Assembleia. A denúncia só será analisada em fevereiro. Um abaixo -assinado nas redes de Isa cobra antecipação.

'Cargo público é experiência violenta para mulheres'

Na manhã de sexta-feira (18), Isa disse que ocupar um cargo político no Brasil é uma experiência extremamente violenta para as mulheres.

"Em primeiro lugar, [me senti] violada, as minhas prerrogativas enquanto deputada. Enquanto mulher, não é a primeira vez que passo isso. A experiência no parlamento é muito machista, muito violenta. A experiência na política para as mulheres, ela é muito violenta", disse Isa em entrevista ao Bom Dia São Paulo.

Pelas imagens, é possível ver Cury conversando com outro deputado. Depois, ele faz um movimento em direção à deputada Isa Penna, que está apoiada na mesa diretora da Casa, e volta a conversar com outro parlamentar, que tenta segurá-lo, mas se dirige novamente à deputada. Cury, então, para atrás da deputada, passa a mão no seio dela. Imediatamente, Isa Penna tenta afastá-lo.

Nesta quinta (17), por meio de nota, a deputada relatou que ela e outras parlamentares já foram assediadas em outras ocasiões.

"A deputada Isa Penna é conhecida por atuar em prol do combate à violência contra as mulheres e afirma que a violência política de gênero que sofreu publicamente na ALESP infelizmente não é um caso excepcional, dado que ela e as deputadas Mônica Seixas e Erica Malunguinho, do mesmo partido, já foram assediadas em ocasiões anteriores", diz a nota.

Em discurso no plenário, Isa Penna também relatou que o caso não era isolado.

“O caso que a gente vive não é isolado. A gente vê a violência política e institucional contra as mulheres o tempo todo. O que dá direito de alguém encostar numa parte íntima do meu corpo? Meu peito é íntimo. É o meu corpo. Eu estou aqui pedindo pelo direito de ficar de pé e conversar com o presidente da Assembleia sem ser assediada”, afirmou Isa Penna.

No plenário, o deputado Cury pediu desculpas por "abraçar" a colega. Ele negou que houve assédio ou importunação sexual.

“Subo aqui hoje nessa tribuna muito constrangido e muito triste pelo fato que foi aqui ocorrido e relatado, pelo julgamento feito, mas estou aqui para passar a minha versão para vocês. Em primeiro lugar, gostaria de frisar a todos, principalmente às mulheres que estão aqui, que não houve, de forma alguma, da minha parte, a tentativa de assédio, importunação sexual ou qualquer outra coisa ou qualquer outro nome semelhante a esse. Eu nunca fiz isso na minha vida toda. E quero dizer, de forma veemente, principalmente para as colegas deputadas que estão aqui, eu nunca fiz isso. Mas se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi. Desculpa se eu tentei, como faço com diversas colegas aqui, de abraçar e estar próximo. Se com esse gesto eu a constrangi e ela se sentiu ofendida, peço desculpas."

Em outro momento do discurso, Cury disse que sua chefe de gabinete é mulher e está acostumado a abraçar e beijar suas colegas de trabalho.

“Queria dizer para vocês que não fiz por mal nada de errado. Meu comportamento com a deputada Isa Penna é o comportamento que tenho com cada um dos deputados aqui. Com os colegas deputados, as colegas deputadas, com os assessores e com as assessoras, com a Polícia Militar femininas aqui. De cumprimentar, de abraçar, de beijar, de estar junto. A minha chefe de gabinete é uma mulher. Eu tenho assessoras mulheres aqui, no escritório em Botucatu. Eu nunca ia fazer isso na frente de 100 deputados. Quantas câmeras tem aqui na Assembleia Legislativa? Estava na frente do presidente. Pelo amor de Deus. Eu não fiz nada disso. Não fiz nada de errado. O que eu fiz foi abraçar. Vocês viram o vídeo."

Importunação sexual

O Código Penal estabelece, no seu artigo 215-A, como importunação sexual "praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro".

E prevê uma pena de reclusão de 1 a 5 anos, em caso de condenação. Em razão dessa pena máxima estipulada em lei, acusados desse crime podem, em tese, ser presos em flagrante.

Diferentemente da importunação sexual, o crime de assédio, para ser enquadrado, requer que o agente, ou seja, o acusado, se prevaleça "da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função".

Pela lei, um crime que não se enquadraria, em tese, a uma situação de abuso sexual seria o que ocorre entre pares, como um deputado contra uma deputada.

Deputado Fernando Cury passa a mão na deputada Isa Penna — Foto: Reprodução

O Código Penal prevê uma pena mais baixa para o assédio sexual: detenção de 1 a 2 anos. Na prática, isso impede, inclusive, que um acusado seja preso em flagrante somente com base nesse delito.

Conselho de Ética

Em nota, a Alesp afirmou que o Conselho de Ética fará a avaliação do caso. O presidente da Casa, o deputado Cauê Macris (PSDB), com quem a deputada conversava no momento em que foi abordada por Cury, não se manifestou sobre o assunto.

Presidente do Conselho de Ética da Alesp, a deputada Maria Lucia Amary (PSDB), disse em postagem nas redes sociais que o caso será investigado.

"Como Presidente do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, irei receber e determinar a imediata apuração da denúncia de assédio sexual contra um deputado", disse em postagem na rede social.

O Cidadania, partido de Cury, afirmou que analisa as imagens para tomar providências cabíveis e que não tolera assédio.

“Com relação ao episódio envolvendo o deputado estadual Fernando Cury, o Cidadania analisando as imagens, exige as devidas explicações do parlamentar e encaminha o caso ao nosso Conselho de Ética, para que ouvido o representado, sejam tomadas providências cabíveis e efetivas. A legenda não tolera qualquer forma de assédio e atuará fortemente para que medidas definitivas sejam adotadas. Temos uma história de luta em defesa dos direitos da mulher que nenhuma pessoa pode macular", diz a nota.

Veja os vídeos da matéria na íntegra aqui

Fonte: g1.globo.com

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