O homem de 29 anos, morador de Vila Velha (ES), é o mesmo que já havia aparecido em outra investigação, conectado aos suspeitos de aplicarem o golpe do falso advogado. Ele foi preso na manhã desta quinta-feira (24) pela polícia gaúcha no Espírito Santo.
Com prisão preventiva decretada, ele foi localizado pelos policiais da Delegacia de Repressão a Crimes Patrimoniais Eletrônicos durante a terceira fase da Operação Falso Patrono. Além da ordem de prisão, os policiais cumprem em Vila Velha quatro mandados de busca e apreensão.
Segundo a investigação, o capixaba é suspeito de ser o criminoso responsável por vender acessos a sistemas processuais para estelionatários aplicarem o golpe. Mas essa não seria sua única especialidade, já que ele estaria vinculado a uma série de golpes.
— Ele fornece informações, dados, de sistemas processuais para golpistas do Brasil inteiro. É um elo importante nesses golpes cibernéticos. Com certeza, a prisão dele vai repercutir no meio dos golpistas virtuais. Ele é um elo entre vários golpistas — afirma o delegado Eibert Moreira Neto, diretor do Departamento Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos.
A polícia descobriu que o criminoso anunciava pela internet acessos aos sistemas ao valor de R$ 200. Numa das conversas interceptadas pela polícia, ele afirma que realiza, em média, cerca de mil consultas diárias.
— Eram vários logins de Estados diferentes, que levaram até essa mesma pessoa. Ele tinha acessos aos sistemas judiciários de vários Estados do Brasil, não era uma exclusividade dos sistemas do Rio Grande do Sul — explica o delegado João Vitor Herédia, responsável pela investigação.
No caso do golpe do falso advogado, para possibilitar as fraudes, os autores da trapaça tinham acesso a dados sigilosos de processos e das vítimas, além dos profissionais pelos quais se passavam. O investigado, segundo a polícia, vendia logins de advogados e de outros servidores vinculados aos sistemas e, dessa forma, os criminosos conseguiam acessar informações sobre o andamento dos processos das vítimas.
Documentos falsos
Conforme a apuração, o capixaba falsificava documentos e atestados falsos e mantinha uma gráfica clandestina. Foi dessa forma que ele apareceu durante a investigação que resultaria na Operação Medici Umbra. Neste caso, ele teria fabricado documentos falsos digitais e físicos para os golpistas se passarem pelos médicos gaúchos.
— Nós identificamos que esse alvo principal daquela operação era cliente desse capixaba, que também vendia acessos para os golpistas da Falso Patrono. O capixaba é um fornecedor de acessos e ele se cruza nas nossas investigações. Tanto na Médici Umbra, quanto na Falso Patrono — detalha o delegado Eibert.
As investigações também identificaram a suspeita de participação da companheira dele. Os dois chegaram a ser presos em 2022, numa gráfica clandestina em Vila Velha. No local, foram apreendidos documentos falsificados, carimbos oficiais, papel moeda e maquinário profissional para falsificações de alta qualidade.
Nessa mesma ocasião, foi descoberto que a companheira do investigado era foragida da justiça de São Paulo por tráfico de drogas. Nesta fase da operação, não há mandados autorizados contra a investigada.
Os mandados de busca e apreensão são cumpridos em endereços de interesse relacionados ao investigado. A operação conta com o apoio da Polícia Civil do Espírito Santo. Um computador e um celular apreendidos com o suspeito serão analisados para dar sequência à investigação. A polícia ainda investiga possível conexão do golpista com o crime organizado.
Outras fases
Falso Patrono | Ceará
Cinco pessoas foram presas no Ceará em julho.
Polícia Civil / Divulgação
No início de julho, foram cumpridos sete mandados de prisão no Ceará, além de outras ordens judiciais de busca e apreensão em Minas Gerais e Santa Catarina na primeira fase desta mesma operação. A polícia conseguiu identificar 15 suspeitos no Ceará, um em Santa Catarina e um em Minas Gerais.
Foram executadas ordens de prisão contra sete suspeitos, que residiam no Ceará, Estado de onde o golpe era coordenado. Um dos integrantes presos na primeira fase é um homem de 44 anos de Fortaleza, responsável por criar meios para a prática dos crimes, além de controlar financeiramente os valores obtidos com a fraude.
— São vários dados de advogados utilizados. A nível de Brasil, chegam a milhares de vítimas. Essa organização não focava apenas em advogados gaúchos, apesar de ter grande volume de ocorrências aqui, mas se usava de dados de advogados de todo o Brasil — afirma Herédia.
Falso Patrono 2 | São Paulo
Duas pessoas foram presas em São Paulo, incluindo o homem apontado como líder do esquema de estelionato.
Polícia Civil / Divulgação
Durante a investigação da segunda fase da operação Falso Patrono — que teve como alvos suspeitos de aplicarem o golpe do falso advogado — a Polícia Civil descobriu uma espécie de cartilha do crime. Trata-se de um documento com orientações sobre como os estelionatários deveriam abordar as vítimas e que termos deveriam ser usados para convencê-las da trapaça.
Uma série de casos levou a polícia gaúcha a rastrear um grupo criminoso suspeito de estar por trás desta fraude. Uma ação foi desencadeada em 15 de julho em São Paulo (SP) pelo Departamento de Repressão aos Crimes Cibernéticos do Rio Grande do Sul. Quatro mandados de prisão preventiva e 17 de busca e apreensão contra suspeitos de integrarem a quadrilha foram cumpridos.
Entre os suspeitos presos, estava um homem de 24 anos, natural de Guarulhos (SP), apontado como o responsável por abordar diretamente parte das vítimas e manter contato com pessoas de interesse do grupo, como advogados que fariam a defesa em caso de prisão. O suspeito segundo, a polícia, teria chegado a utilizar contas de familiares para receber valores obtidos com o golpe e já tinha antecedentes criminais por estelionato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Medici Umbra | São Paulo
Cinco pessoas da mesma família foram alvo de mandado de prisão preventiva.
Polícia Civil / Divulgação
Em junho deste ano, a Delegacia de Repressão a Crimes Patrimoniais Eletrônicos do Rio Grande do Sul deflagrou a Operação Medici Umbra em São Paulo (SP) contra os suspeitos de integrarem uma quadrilha especializada em aplicar golpes em médicos. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e três de busca e apreensão em São Paulo, no bairro Cidade Tiradentes.
A investigação apontou uma mulher de 28 anos, natural de São Paulo, como a líder do grupo. Ela tem passagem pela polícia por estelionato mediante fraude eletrônica em Pernambuco e no Amazonas. Também foram alvo dos mandados de prisão preventiva o companheiro dela de 34 anos, além de seus outros dois irmãos, 32 e 29 anos, e o cunhado de 34 anos.
Segundo o delegado João Vitor Herédia, da Delegacia de Crimes Patrimoniais Eletrônicos, o grupo invadia a conta de e-mail das vítimas, depois conseguia, com isso, acesso à conta do gov.br.
— Nas contas gov.br, essa organização criminosa tinha acesso a uma grande massa de documentos pessoais desses médicos, inclusive o imposto de renda. A partir desses dados, abriam contas em nomes das vítimas em bancos e corretoras. Então, buscavam fazer transferências das contas verdadeiras para as contas novas abertas a partir da fraude — explica o delegado.
Golpe do falso advogado
- Os golpistas monitoram os sistemas dos tribunais para identificar processos judiciais, especialmente aqueles envolvendo pagamentos de precatórios, requisições de pequeno valor ou indenizações. Coletam nomes das partes, CPFs, nomes dos advogados e números dos processos
- De posse desses dados, os criminosos entram em contato com as vítimas, geralmente via WhatsApp ou ligação telefônica, utilizando um número desconhecido. Eles se apresentam como o advogado, um assessor, secretário(a) do escritório ou até mesmo um funcionário do Tribunal
- A abordagem é convincente. O golpista informa que um valor expressivo (o precatório ou a indenização) foi finalmente liberado. Para dar veracidade, enviam documentos falsificados com timbres do Poder Judiciário ou do escritório de advocacia
- Para a liberação do dinheiro, no entanto, afirmam que a vítima precisa pagar "custas processuais", "impostos" ou "taxas cartorárias" de forma antecipada. O pagamento é invariavelmente solicitado via Pix para contas de laranjas
- Em alguns casos, os fraudadores utilizam chamadas de vídeo, fotos, vídeos e áudios com linguagem jurídica para aumentar a credibilidade da fraude, dificultando a desconfiança por parte da vítima
Leticia Mendes
Fonte: @gzhdigital
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