As estatísticas sobre a violência na região foram usadas pela defesa, comandada pelo escritório Dalledone & Advogados Associados, no julgamento de cinco acusados de homicídio, apontados como os responsáveis por comandar o tráfico e encomendar mortes no Parolin. “A polícia diz que os réus foram responsáveis pelo terror no Parolin, mas, enquanto eles estavam presos, a guerra do tráfico seguiu e as mortes só aumentaram”, disse Claudio Dalledone Júnior (@drdalledone).
O crime
Um dos crimes atribuídos pela polícia aos réus foi o assassinato do adolescente Marcos Vieira, de 16 anos, ocorrido em 3 de julho de 2020. Ele foi atingido por vários disparos de uma pistola calibre 380. Na época, uma única testemunha foi ouvida pela polícia e foi o motivo para que a investigação denunciasse Roberto Patrick Marques Nunes, Allan Franco da Rocha, Henrique da Rocha e Oseias Kruger Cordeiro. Segundo a denúncia, o grupo agiu sob ordem de Anelice Lacerda da Silva, que estaria sendo prejudicada pelo grupo de traficantes que o adolescente participava.
Prisões por estatísticas
As investigações sobre o crime duraram pouco tempo e, de acordo com a defesa, não foi provado nenhum vínculo entre a suposta mandante e os supostos executores que foram apontados pela polícia. O promotor de Justiça Rodrigo Otávio Casagrande criticou o trabalho: “não tem uma interceptação telefônica. Muito difícil. Aí vem o relatório policial e o método é sempre o mesmo. Falta esse apuro, falta esse cuidado. Dizem que está solucionado o que não tem nada solucionado, apenas para entrar em estatística”, afirmou.
A fala do promotor se refere ao trabalho de um delegado, autointitulado ‘Xerifão’, que foi eleito deputado estadual pelo Paraná, após divulgar em emissoras de televisão que mantinha uma taxa de resolução de homicídios de 98%: “algo tão horrendo quanto esses quinze disparos, aconteceu enquanto a autoridade policial brincou de ser xerife. Isso não pode ser usado como plataforma para se sustentar votos, para pleitear uma cadeira no parlamento estadual”, explicou Dalledone. O deputado, na época em que se preparava para a campanha, fez uma megaoperação no Parolin, com oitenta policiais e um helicóptero da Polícia Civil envolvidos.
“A realidade é de aproximadamente dez mortes, neste contexto do Parolin. Cada uma delas originou uma investigação policial. Mas, em nenhuma delas, nós temos qualquer tipo de prova. Não há uma foto, um áudio, um vídeo, um celular apreendido. Toda uma investigação baseada em uma testemunha, que, meses depois, foi desmascarada”, disse o advogado Renan Canto, do Grupo Dalledone, em plenário. Ele se refere à descoberta de que uma pessoa próxima à testemunha estava sendo protegida.
“Operação Teatro”
O delegado responsável pelas prisões se elegeu deputado estadual e, conforme a lei, teve que se licenciar do cargo. Mas se envolveu em uma polêmica e passou a ser investigado pela Corregedoria da Polícia Civil (PCPR), após realizar uma falsa operação policial ao vivo, em uma emissora de televisão, usando o nome da corporação. Nos vídeos, transmitidos na TV e nas redes sociais, ele aparece com um fuzil nas mãos e vestindo um colete à prova de balas, com o símbolo da corporação. “Estamos trabalhando porque buscamos o cumprimento de um mandado de prisão, especificamente relacionado a um grande advogado de Curitiba que foi vítima de uma tentativa de homicídio [...] Infelizmente até agora não encontramos o investigado, mas não vamos desistir", disse.
Na ocasião, a esposa do delegado, que se candidatou a vereadora quatro meses depois, aparece segurando o microfone da emissora e relatando o acontecimento, ao vivo. Em nota, a Polícia Civil esclareceu: “nenhuma das ‘operações’ era de conhecimento ou possuía anuência da Polícia Civil”. O casal admitiu não ter agido oficialmente em nome da polícia, mas afirmou ter sido chamado por um líder religioso, alegando que um homem estava cometendo crimes contra a ex-esposa.
Absolvição
O julgamento dos cinco acusados pelo homicídio levou aproximadamente dez horas e terminou com a absolvição de todos os réus. “Anelice ficou presa durante quatro anos por um crime que não cometeu. Esse processo deixou claro que, muito mais que estatística, a Polícia Civil precisa se comprometer com uma investigação séria e que aponte os verdadeiros culpados”, finaliza Claudio Dalledone Jr.
Postar um comentário
Agradecemos pelo seu comentário!