"Obrigado a todos os colombianos que, de uma forma ou de outra, nos deram apoio e nos brindaram com essa confiança para seguirmos adiante", afirmou Victor, em meio à tosse e a espasmos musculares. "Não lhes digo adeus. Digo um 'até logo'! Abraços e bênçãos a todos. Aos poucos, vamos nos encontrar onde Deus nos tem."
Ao sair de casa, foi homenageado por dezenas de vizinhos e amigos, que fizeram questão de dar o adeus. "Victor foi hospitalizado na clínica Instituto Colombiano del Dolor (IPS Incodol), de Cali. Comeu batata frita e tomou suco antes de receber um sedativo, às 19h do mesmo dia (hora local), para que o corpo começasse a relaxar. Ele foi aplaudido pelos médicos e funcionários. Às 21h20, deixou de respirar. Estava acompanhado da esposa e dos filhos", contou Luis Giraldo ao Correio, por telefone. O motorista pediu à família que doasse todos os órgãos funcionais. De acordo com o jornal El Tiempo, as córneas de Victor já foram doadas. O corpo do colombiano começou a ser velado, em casa, ontem, e será cremado hoje.
O advogado acompanhava o drama de Victor desde agosto passado. "É o primeiro caso de eutanásia em paciente não terminal da América Latina e do Caribe", comentou Luis Giraldo. Segundo o advogado, Victor Escobar tinha cinco enfermidades: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), trombose pulmonar, acidente vascular cerebral, fibrose pulmonar e hemorragia nos pulmões. O derrame retirou-lhe parte dos movimentos do lado esquerdo do corpo. Giraldo relatou que, nos últimos dias de vida, o cliente teve a companhia de muitos familiares e saboreou suas refeições favoritas.
"Victor tomou a decisão de se submeter à eutanásia dois anos atrás. Em um primeiro momento, a Justiça colombiana negou-lhe o procedimento. Em agosto de 2021, a Corte Constitucional descriminalizou o homicídio por piedade em pacientes não terminais, ao alegar que teriam o mesmo direito de outros doentes. Imediatamente, Victor solicitou a eutanásia pela segunda vez, negada pela seguradora de saúde, sob argumento de que não era um paciente terminal e que, apesar de a Corte Constitucional ser o órgão máximo de controle dos direitos, não detinha poder para realizar a eutanásia", explicou Giraldo.
O advogado espera que o Congresso da Colômbia legisle em favor da eutanásia em doentes não terminais, "a fim de que essa porta seja aberta totalmente".
A família, por meio do defensor, entrou com uma ação de tutela, em Cali, e o juiz ordenou a eutanásia. No entanto, a clínica entrou com um recurso, por meio do qual pedia a revisão do caso, em segunda instância. A Corte declarou nulidade de toda a decisão judicial após encontrar uma falha na petição. O magistrado, então, reiniciou o processo e determinou a morte assistida de Victor, a qual ocorreu ontem, com a ajuda de dois comitês — um científico e outro médico.
"Victor é um guerreiro. Uma pessoa que me ensinou muitíssimas coisas, alguém admirável. Mesmo que algumas pessoas não estivessem de acordo, ele tomou a decisão. Hoje, está descansando", desabafou Giraldo.
Na América do Sul, apenas a Colômbia despenalizou a eutanásia, em 1997. No entanto, várias lacunas dificultam a aplicação da legislação. De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), 157 pessoas receberam eutanásia na Colômbia, todas em fase terminal. No Chile, a morte assistida é proibida, mas o tema está em discussão no Congresso. Argentina e Uruguai aprovam a "morte digna", a qual contempla a recusa a tratamentos paliativos. No Brasil, a eutanásia é proibida por lei.
Rodrigo Craveiro
Fonte: www.correiobraziliense.com.br
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