Minimalismo digital: quando nada é tão urgente e brilhante quanto parece

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bit.ly/2L7R2hY | Você já experimentou dias onde teve a sensação de que tudo estava no controle? Sua cabeça estava leve e livre de preocupações, e você estava fazendo exatamente o que deveria estar fazendo naquele momento, sem medo do telefone tocar ou de receber alguma mensagem ou e-mail de algum cliente te cobrando algo?

Sabe aquela conversa boa com algum amigo que você não vê há muito tempo, e você esquece o celular no bolso e vive o momento com total atenção, com a certeza de que você não está perdendo absolutamente nada?

Pois é. Eu vivia o oposto disso.

Por muito tempo meu celular foi o meu pior inimigo. Apesar de achar incrível como a tecnologia encurtou distâncias e abriu um mundo na palma da minha mão, me sentia ansioso o tempo todo pela próxima notificação ou invadido quando recebia alguma mensagem ou ligação em algum momento em que eu precisava de concentração ou apenas queria sossegar.

Ficava o tempo todo rolando a timeline. Me inscrevia em listas e mais listas de e-mail para ganhar o e-book com as dicas que iriam transformar o meu escritório. Tinha uma pasta cheia deles e eu nunca tinha tempo para ler, além de uma caixa de e-mails sempre lotada de gente querendo me vender alguma coisa, e uma ansiedade sem fim para absorver aquele monte de informações.

Parecia que a cada dia eu estava mais desatualizado e outros advogados estavam fazendo alguma coisa que eu não estava fazendo nas redes sociais, e eu também precisava começar, lógico, naquele instante.

Aos poucos fui percebendo que, nesse mundo caótico e de um fluxo gigante de informações, é fácil a gente se perder e ficar ansioso pela próxima oportunidade brilhante que irá surgir, deixando de investir o tempo necessário para realmente ter sucesso com uma.

O leitor que me lê semanalmente, seja aqui no meu perfil do Jusbrasil ou do LinkedIn ou no meu blog, já deve ter percebido como gosto de falar sobre as coisas importantes da vida.

Já contei aqui do dia em que descobri que nunca teria um terno Brooksfield, de um momento de crise que me fez ver a beleza de uma vida mais simples e do dia em que cheguei à conclusão de que tempo vale mais do que dinheiro.

Meu discurso pode parecer minimalista demais ou que sou um cara que me contento com pouco. Mas não. A ideia é muito simples, na verdade, e tem a ver com encontrar o que é realmente importante e suficiente pra você, não o que os outros dizem que é. É saber o tipo de vida que você imagina e quer pra você e buscar isso com todas as suas forças, sem deixar que o ideal das outras pessoas, muito menos a agenda delas, te atrapalhe nisso.

Já me senti culpado quando não estava envolvido de alguma forma com o meu trabalho ou quando encontrava um tempo livre na agenda e estava passeando com minha esposa, mas o celular tinha ficado em casa.

Esses pensamentos ecoavam na minha cabeça: vai que o cliente liga ou envia uma mensagem e eu não respondo na hora?! Vai que alguém me pede um orçamento e eu não estou disponível para responder?! Me disseram que eu preciso estar disponível.

A verdade é que eu não conseguia me desconectar. Se tornou inevitável.

Com o passar do tempo, quando comecei a me sentir mais seguro em relação aos meus ideais de vida e trabalho, percebi que a maioria das coisas que chegavam até mim não eram tão brilhantes assim, muito menos urgentes quanto pareciam ser. Algumas delas, inclusive, não demandavam nenhuma ação da minha parte, apenas roubavam a minha atenção e, muitas vezes, o meu humor.

E-mails, mensagens no WhatsApp ou notificações... Nada que eu não pudesse resolver depois, em um momento reservado para isso.

Hoje, por exemplo, mantenho meu celular no "modo avião" durante a manhã toda. É um período que, particularmente, gosto muito e me sinto mais produtivo. Aproveito para praticar exercícios, ler e escrever.

Nem tudo é tão urgente quanto parece, e você não precisa visualizar tudo na hora, responder na hora ou solucionar imediatamente.

Eu sei que cada um tem os seus corres e compromissos, mas acho que podemos controlar um pouco mais o nosso tempo e não deixar que os outros façam isso.

Recentemente recebi uma ligação de um ex-cliente, por assim dizer. Parei tudo o que eu estava fazendo e o atendi. Pela insistência, parecia importante. De fato, era, e eu pedi alguns documentos que eram necessários para resolver o problema, e ele se comprometeu a enviar. Isso já faz dez dias, e nada dos documentos.

Percebe?

Às vezes a gente para tudo, passa por cima do que é prioridade pra gente, checa mensagens e notificações enquanto dirige e, no final, as coisas parecem não ser tão urgentes. Só nos deixaram distraídos e mentalmente sequestrados.

Refleti bastante sobre isso depois de ler o livro Minimalismo Digital, de Cal Newport. Professor de ciência da computação na Universidade de Gergetown, Cal defende a ideia de que devemos examinar as ferramentas digitais de comunicação que usamos, melhorando o uso com as ferramentas que agregam valor à nossa vida e eliminando o que ele chama de "ruído digital de baixo valor", ou seja, aquelas que não agregam valor à nossa vida.

A chave para viver bem em um mundo de alta tecnologia é gastar muito menos tempo usando a tecnologia. Cal Newport

De acordo com o Screen Time, uma ferramenta do iPhone para monitorar o tempo que passo olhando para ele, minha típica rotina diária no celular já bateu a meta de noventa minutos de troca de mensagens, uma hora de leitura, mais uma hora checando e-mails, outra nas redes sociais e aproximadamente 70 “olhadas” - ou "conferidas", como você preferir.

Quando parei para avaliar as ferramentas digitais que eu uso no celular, descobri que o App do Facebook era, para mim, somente “ruído digital de baixo valor”. Sempre que eu entrava, os minutos passavam e eu não obtinha nenhum valor real disso. Ou seja, tempo valioso jogado fora.

Aplicativos como o do Linkedin e e-mails, embora sejam parte do meu trabalho, decidi não ter no celular também, justamente porque utilizo no meu desktop, onde passo a maior parte do meu tempo. Não faz sentido desligar o computador no final do meu expediente e continuar no celular depois.

Fiz também um detox no meu e-mail pessoal. Me descadastrei de várias listas de e-mails que não tinha mais interesse, e recebo apenas algumas newsletters semanais que acho interessantes.

O minimalismo digital não só me ajudou a lidar com a complexidade de uma era de sobrecarga de informações, privação de sono, pressão e insanidade geral, mas também reduziu o atrito ao purificar meu dia a dia com informações mais desejáveis e também o meu trabalho com mais autonomia de tempo e espaço, quando o deixo em "modo avião".

Esse estilo de vida tem sido gradual mas o impacto já foi muito maior do que eu esperava. Me sinto mais focado quando estou escrevendo ou trabalhando em alguma questão jurídica, e menos ansioso tentando acompanhar todas as ferramentas digitais e respondendo prontamente todas as mensagens.

Nem tudo é tão brilhante ou urgente quanto parece.
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E aí, gostou do texto? Às vezes você se sente sobrecarregado de informações também, assim como eu? Compartilha comigo o seu dia a dia e o que você fez para melhorar! Adoraria saber também se o texto foi útil pra você!
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Publicado originalmente em pedrocustodio.adv.br

Pedro Custódio
Advogado que carrega o escritório na mochila e escreve
Sou um advogado que carrega o escritório na mochila e escreve. Escrevo para inspirar e ajudar outros advogados insatisfeitos com seu estado atual a trabalharem de forma mais criativa e de onde quiserem. Tenho um blog (pedrocustodio.adv.br) onde reflito sobre a vida, dou dicas de produtividade e falo sobre empreendedorismo e novas formas de trabalho na advocacia, principalmente, sem escritório físico. Além disso, meus textos já foram destaque em portais incríveis como Jusbrasil, Migalhas, Amo Direito, Espaço Vital e Freelaw. Me encontre aqui também ☟ ✉ contato@pedrocustodio.adv.br 💻 pedrocustodio.adv.br ☕ linkedin.com/in/pedrocustodioadv/ 📘 facebook.com/pedrocustodio.adv
Fonte: pedrocustodion.jusbrasil.com.br

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