Suspeito diz à polícia que perfurações na vítima eram para uma traqueostomia: ‘ela não conseguia respirar’

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Via @jornalogloboAnna Carolyne Bernardo da Silva, de 27 anos, morreu no dia 14 de setembro, em atendimento de emergência no Hospital de Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Além de ferimentos na face, ela tinha quatro perfurações à faca na região da clavícula direita e estava inconsciente. Quem a acompanhava era seu marido, Magno Gomes dos Santos. À polícia, ele contou que Anna o estava ajudando a colocar roupa no varal, quando desmaiou e começou a convulsionar. Ao perceber que ela estava sem ar, pegou uma faca na cozinha e tentou fazer uma traqueostomia, além de ter batido em suas costas para tentar reanimá-la. A mulher morreu de hemorragia interna por lesão da veia jugular e artéria, após duas horas em cirurgia.

Na época, as versões do caso não foram suficientes para a Justiça acatar o pedido de prisão temporária feito pela 22ªDP, na Penha. O inquérito ainda não foi finalizado, mas um novo parecer do laudo de necrópsia, feito na última terça-feira e entregue ao delegado na quinta, pode ajudar na conclusão e indiciamento do marido, suspeito do feminicídio. Ele e Anna estavam juntos há seis anos e haviam casado em 2021.

A Polícia Civil diz que "a investigação está em andamento para conclusão e elucidação do caso". Magno ainda não é apontado como autor do crime.

Anna Carolyne trabalhava como recepcionista. Testemunhas dizem que Magno controlava o salário dela — Foto: Reprodução

Versão de Magno Gomes

O registro de ocorrência foi feito em 14 de setembro com a tipificação de lesão corporal. Magno prestou depoimento já acompanhado de um advogado. Ele narrou que, por volta das 13h30 daquele dia, ele e Anna estavam no quintal de casa colocando roupa no varal, quando, subitamente, a mulher passou mal e caiu de costas no chão, espumando, tremendo e sem conseguir fixar a visão. Ele contou que ficou desesperado e resolveu bater no peito e nas costas dela, para tentar reanimá-la.

Depois, ela desmaiou sem respirar. Nessa hora, ele teria gritado por ajuda, foi a cozinha e pegou uma faca. Fez um furo no pescoço dela, próximo à traqueia, na intenção de fazer a respiração voltar, mas o corte fez sair muito sangue. Ele chamou por vizinhos e, com o pai, foram à UPA de Del Castilho. Ele também acrescentou ter suspeitas de que um objeto, jogado por um vizinho, pudesse ter caído na cabeça da mulher, que apresentava um machucado na testa.

Segundo ele, nunca houve brigas entre ele e Anna, assim como não há registros de que ela tivesse problemas de saúde. Magno é contador e ex-paraquedista do exército. Atualmente trabalha em home-office e estuda para concursos.

Versão de testemunhas

Duas amigas de Anna, de longa data, prestaram depoimento para contar sobre a relação dela com Magno. Ambas reforçaram que ele era abusivo e controlador, apoderando-se até do salário dela com a desculpa de que iria investir no futuro. Em depoimento, uma delas revelou que "ocorreram cerca de três encontros, nos quais Anna compareceu com Magno. Que Anna não parecia à vontade, estava desconfortável. Em todas as ligações era perceptível que Magno ficava monitorando as falas de Anna, pois ouvia a voz de Magno ao fundo, opinando e muitas das vezes respondendo às perguntas".

Também à polícia, a mãe de Anna disse que, mesmo sem saber de brigas e discussões entre o casal, achou estranho a filha ligar, duas semanas antes de morrer, pedido dinheiro emprestado.

Depoimento da mãe no dia 26 de setembro: "No dia anterior à morte, Anna comentou que estava com dinheiro, pois havia recebido a mesada. Achou estranho e desconhecia essa situação entre o casal, uma vez que Anna trabalhava, mas disse que Magno administrava o dinheiro dos dois, pois estavam investindo para o futuro. Em episódio estranho, no dia 31/07, sua filha, aparentemente nervosa ao telefone, pediu dinheiro emprestado para encontrar a amiga".

Novo parecer do laudo de necrópsia

Para ajudar na solução do inquérito, a família de Anna contratou um perito para analisar o laudo de necrópsia. Em um documento de 55 páginas, o médico Fernando Esbérard, perito médico do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), explica as lesões da vítima e apresenta possíveis dinâmicas para o crime. Para ele, trata-se de feminicídio ou, minimamente, de homicídio com dolo eventual.

Ao todo, Anna tem 10 ferimentos no corpo: seis na face e quatro na clavícula direita. As do rosto estão presentes na maça e supercílio direitos, testa e nariz, que aparece com sangue e partes roxeadas. Magno contou que eles seriam consequência da queda, o que contradiz a versão, apresentada por ele mesmo, de que ela teria caído de costas.

O médico afirma que cada um dos seis ferimentos é diferente entre si. Sugerindo que ela pode ter levado um soco — ferimento na testa e nariz —, e ter tido o rosto pressionado contra uma superfície — machucado na região dos olhos, e, eventualmente, ter sido arrastada — marca na maça do rosto.

Ele reforça também que as quatro perfurações de nada tem a ver com uma traqueostomia. Elas estão na região da clavícula e são profundas. Para o procedimento em questão, o corte deveria ser feito na garganta e sem profundidade, para, posteriormente, ser introduzido um ventilador mecânico.

Na conclusão, o perito aponta contradições nas versões de Magno, que teria dito no velório que Anna caiu da escada e, ainda, que havia desmaiado devido a um jejum intermitente.

Por Bruna Martins
Fonte: @jornaloglobo

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