Diarista condenada a indenizar médico mantém dilema: "se pagar, não como"

bit.ly/37wLIhp | Condenada a pagar indenização de R$ 10 mil a médico ofendido em uma postagem nas redes sociais, a diarista Vera Lúcia Lopes, 49 anos, ainda não acertou as contas com a Justiça. Desde a sentença, há nove meses, o valor foi reduzido para R$ 4 mil, mas, para ela, o dilema continua: “Se eu pagar fico sem comer; eles não entendem isso, só querem, só querem”.

Vera Lúcia foi condenada em decisão da juíza leiga Edi de Fátima Dalla Porta Franco, do Segundo Juizado Especial, de 5 de abril de 2019. A multa por danos morais responde a processo de médico que atendia na UPA (Unidade de Pronto Atendimento Comunitário) Leblon, exposto em uma foto postada na página de Facebook da diarista, datada de 6 de novembro de 2018.

Naquele dia, Vera acompanhou a sobrinha que foi ao posto para tratar de cálculo na vesícula. Na foto, dois médicos aparecem sentados, conversando, em frente a uma maca. Na legenda “Vera Lúcia Lopes está se sentindo exausta em UPA Lebon (...) por isso q as upas não funcionam enquanto os pacientes padecem os médicos ficam batendo papo”.

Em defesa, a diarista disse que a sobrinha foi responsável pela postagem. A juíza considerou os argumentos dos advogados do médico. “(...) o autor comprovou ter sido exposto a situações humilhantes e moralmente constrangedoras em seu ambiente de trabalho e fora dele”, sendo comprovado o “o intenso sofrimento do autor, que trabalha como médico, tendo maculada sua moral”. A multa foi arbitrada em R$ 10 mil.

Na época, o caso ganhou repercussão nacional. Vera recebeu ajuda de advogado, que se prontificou a tentar reverter a situação. No dia 5 de agosto, o juiz Wagner Mansur Saad, da 1ª Turma Recursal Mista, atendeu a recurso da diarista e reduziu a multa para R$ 4 mil.

Mas, até agora, a conta não foi paga e o valor, corrigido, chegando a R$ 4.951,00. “Não, não paguei, vou tirar da onde?”, disse. A diarista disse não saber que a dívida ainda estava sendo atualizada e que não foi orientada sobre como pagar o débito.

Vera justifica que, 15 dias após divulgação do caso, foi demitida do trabalho em que recebia até R$ 3 mil, por conta de diárias de viagens que fazia de forma recorrente para a fazenda dos empregadores. Conseguiu outro trabalho registrado, mas a renda caiu a salário mínimo, hoje de R$ 1.039,00.

A diarista disse que até deixou de ir à UPA, mesmo precisando de atendimento médico. “A última vez que dei minha carteirinha do SUS, as funcionárias ficaram me olhando; saí de lá e vim embora”.

Vera disse estar arrependida da postagem, mas não há previsão de cumprir a condenação. “Ninguém sabe do meu lado; se eles falassem para fazer serviço comunitário, pagar cesta básica, eu até faria [pagamento]”, disse a diarista. "Se fosse para família humilde, faria com prazer, mas dar dinheiro para médico, eles ganham o triplo do que eu ganho”.

A dívida ainda está correndo. Em novembro, nova certidão foi enviada cobrando o valor, que ainda pode ser acrescido de multa de 10%.

A reportagem tentou contato com os advogados e o médico nos telefones que consta no processo e na página de Facebook, mas não obteve contato. À época, em entrevista ao Uol, David Amizio Frizzo, advogado do médico, sabia que a paciente tinha poucas condições financeiras quando entrou com o pedido de indenização por danos morais, segundo reportagem do Uol. “Não buscamos a Justiça por motivo financeiro, mas pedagógico”.

Silvia Frias
Fonte: www.campograndenews.com.br

0/Comentários

Agradecemos pelo seu comentário!

Anterior Próxima