O Último Tango em Paris e a romantização da “cena” de estupro de Maria Schneider

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bit.ly/3t6jJR7 | O intuito do presente artigo é plantar uma “semente de reflexão” em cada um dos leitores sobre um assunto crítico e que precisa ser discutido com muita responsabilidade: a cultura do estupro.

Também não tenho a menor intenção em ser “engenheiro de obra pronta” e indicar a solução para esse problema, tampouco ser “oportunista”. Nada além da “semente de reflexão”.

Recentemente no Rio de Janeiro, mais uma mulher foi vítima de estupro coletivo.

O crime de estupro (art. 213, CP), por si só, é extremamente aviltante para a vítima, que deve se sentir o ser humano mais sujo da face da terra. Pouco importa se o algoz era marido, namorado, “crush”, melhor amigo ou algum desconhecido qualquer. As vítimas de estupro, em sua grande maioria, do gênero feminino, se sentem um “lixo”.

Já imaginou o quão aviltante deve ser para a vítima de estupro coletivo?! Já imaginou como essa vítima, ao voltar para sua casa, relata o fato para seus familiares?! Já imaginou que, em determinados casos, ela deve ter que “se justificar” por ter sido currada?! Já imaginou a dificuldade desta vítima em registrar ocorrência (seja perante uma DelegadA ou  um DelegadO)?! Esses são apenas alguns exemplos de constrangimentos decorrentes de uma violação sexual, que, infelizmente, cada vez mais são banalizados.

Acredito que a maior celeuma das vítimas, em sua grande maioria, do gênero feminino, está relacionada com o processo vitimizatório (ou vitimização). (Em linhas muito gerais, e de forma bastante rasa, vitimização é o desdobramento negativo de uma experiência emocional desagradável. Em outras palavras, são as consequências ruins de algum fato que já causou perturbação à vítima).

E, no caso das vítimas de estupro, além da vitimização primária (aquela decorrente de alguma infração penal), infelizmente, em alguns casos, ocorre a sobrevitimização ou vitimização secundária (derivada das instâncias formais). E, no meu sentir, talvez a pior de todas que a vítima sofre, que é a vitimização terciária, decorrente da própria família, de seu meio ambiente social, tais como trabalho, faculdade, vizinhos, etc.

Precisamos romper a “cultura do estupro”, que, infelizmente, está inserida em nossa sociedade. Cada vez mais, o “valor da mulher” é (equivocadamente) relacionado com suas condutas morais e sexuais. Estima-se que no Brasil, por ano, mais de 60 mil casos de estupro acontecem.

“O Pior Tango em Paris”, digo, “O Último Tango em Paris”, foi a humilhação que a então jovem atriz Maria Schneider sofreu, com a famosa “cena da manteiga”. Maria Schneider sabia do conteúdo da cena, mas não sabia do “detalhe”.

O tal “detalhe”: o diretor do filme, Bernardo Bertolucci, em conluio com o renomado ator, Marlon Brando, em “nome da arte”, tiveram a ideia de usar na fatídica cena um tablete de manteiga (tipo a que usamos para passar no pão), que, no caso, serviria como um lubrificante. Obviamente que a jovem atriz não sabia de tal detalhe, afinal de contas, era um cena de ficção, apenas uma cena de um filme.

Bertolocci e Brando tinham a intenção de dar maior veracidade à cena e ver a reação da Schneider como mulher (19 anos na época), e não como atriz. Por isso, não fizeram o prévio comunicado sobre o uso da manteiga, tampouco do que viria em seguida.

A vida da jovem atriz após o filme deu uma “guinada”: sofreu com o processo vitimizatório, sofreu preconceito, sofreu com problemas de drogas, depressão… Mas o filme foi premiado, e os algozes, que, com a “licença jurídico-poética”, agiram em concurso de pessoas, seguiram tranquilos.

Sexo só vale a pena quando as partes, em comum acordo, “falam” sim!

Para ratificar: não quer dizer não.
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Por Leonardo Nolasco
Fonte: Canal Ciências Criminais

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