Em 2018, o ministro votou contra o habeas corpus preventivo a Lula, o que abriu caminho para a prisão do petista condenado em segunda instância. No ano seguinte, a Corte reviu o entendimento e decidiu que os réus só poderiam ser presos após o o trânsito em julgado.
“Vamos supor que eu tivesse votado no presidente Lula, que eu gostasse do presidente Lula. Eu sou um juiz. Eu deveria mudar a jurisprudência por querer bem ao réu? A vida de um juiz que procura exercer seu ofício com integridade e sem partidarismo exige decisões que são pessoalmente difíceis”, disse Barroso à Folha de S. Paulo.
“Note-se que, naquele momento, não havia sobre a Lava Jato as suspeições que depois vieram a ser levantadas. Portanto, eu apliquei ao presidente Lula, com dor no coração, a jurisprudência que eu tinha ajudado a criar”, lembrou.
Segundo o ministro, os dois nunca conversaram sobre o voto, do qual não se arrepende: “Eu acho que o presidente é um homem que já esteve tempo suficiente no sereno para entender qual é o papel de um juiz que cumpriu o seu dever de aplicar também a ele o que havia aplicado a outras pessoas”.
Ele também comentou os elogios que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dirigiu a Lula após um breve encontro na Assembleia Geral da ONU. O norte-americano declarou em seu discurso que os dois tiveram “química excelente”.
Barroso se diz testemunha do poder de sedução do petista. Ele revelou à Folha que sua sogra, que não tinha apreço por Lula, virou uma “fã apaixonada” em questão de minutos.
“O presidente Lula é uma pessoa muito agradável e carismática. Logo que ele se elegeu, veio na minha casa, ainda antes da posse. Minha sogra, que é holandesa, não tinha muita simpatia por ele. Mas, em dez minutos, Lula arrumou uma fã apaixonada. Ele tem a capacidade de seduzir as pessoas”, contou.
Veja trecho da entrevista de Barroso sobre a relação com Lula
Barroso revela “dor no coração” ao votar contra o habeas corpus de Lula em 2018 – Vídeo: Reprodução/Folha de S. Paulo/Youtube/ND
Barroso admite possibilidade de deixar o STF, mas nega medo da Lei Magnitsky
Questionado sobre os rumores de que pretende antecipar a aposentadoria do STF, Luís Roberto Barroso brincou: “Tem tanta gente assim querendo se livrar de mim?”
O ministro foi indicado ao cargo pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2013. Pela regra, todos os integrantes do STF devem se aposentar aos 75 anos, que Barroso completará em 2033, a menos que optem por antecipar a saída.
“Sair do Supremo é uma possibilidade, mas não é uma certeza. Eu verdadeiramente ainda não tomei essa decisão”, admitiu.
Ele havia prometido à esposa Tereza Cristina van Brussel que se aposentaria quando deixasse a presidência do STF. A empresária, no entanto, morreu em 2023 em decorrência de um câncer.
“Ela já estava doente, mas a gente tinha a pretensão de passear um pouco, de ter uma vida mais leve. Essa motivação eu já não tenho mais. Então estou ainda verdadeiramente pensando no que fazer. Às vezes tenho a sensação de já ter cumprido o meu ciclo. Às vezes penso que ainda poderia fazer mais coisas. Estou falando da forma mais franca possível, do fundo do meu coração”, afirmou à Folha.
Ele negou que a possibilidade de deixar a Corte tenha relação com as sanções dos Estados Unidos, que revogaram vistos dos ministros do STF e enquadraram Alexandre de Moraes e a esposa, Viviane Barci, na Lei Magnitsky.
“Se eu disser que ter ou não visto para ir aos EUA é indiferente, não estaria dizendo a verdade. Tenho relações acadêmicas e amigos queridos no país. Então é uma chateação para mim. Agora, eu vivo a vida como ela vem, entende? Tenho convites para ir à França, à Alemanha, à Itália, e a minha vida continua”, considera.
“Sair ou não do STF, hoje, tem mais a ver com a exposição pública pessoal, sobretudo dos meus filhos e das pessoas com quem me relaciono. Minha mulher sofria imensamente. A AGU [Advocacia-Geral da União] pagou honorários, como manda a lei, a mais de cem mil advogados. Mas a notícia é que a namorada do Barroso recebeu R$ 300 mil. Tudo isso chateia”, completou.
Beatriz Rohde, Florianópolis
Fonte: @ndmais
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