Conheça três advogadas que o mundo jurídico não define

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Via @diariodonordeste | Até os 40 anos, as advogadas inscritas na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) são a maioria. Mas nos cargos de gestão pública ou privada, a representatividade feminina é ainda muito pequena, se comparada com a participação masculina no topo das hierarquias. Atentas a esta realidade, Natália Uchôa Brandão, 35 anos, Jana Maria Brito, 33 anos, e Jéssica Teles de Almeida, 32 anos, advogadas na Brandão & Advogados (@brandaoeadvogados), decidiram unir experiências para trazer um olhar menos androcêntrico à advocacia atual e fortalecer a liderança das mulheres no meio jurídico.

Natália e Jéssica são amigas de faculdade e já trabalham em parceria desde quando se formaram, laço que se fortaleceu em agosto de 2018. Jana completou o trio em 2019, quando concluiu o seu doutorado na França. Juntas, perceberam que precisavam romper com o conceito tradicional da advocacia para entregar soluções inovadoras. Da insatisfação com os modelos atuais, surgiu o desejo de oferecer um serviço profissional em que a multidisciplinariedade de cada uma seria fundamental para resolver problemas no mercado financeiro, de capitais, no compliance e no âmbito da gestão pública.  

Além do Direito, as advogadas trazem na bagagem formações em Contabilidade, Economia, Serviço Social, Administração de Empresas e até em Belas Artes. Elas vão além da caixa do jurídico, pois suas trajetórias também são alinhadas ao mundo acadêmico e com novas habilidades que o mercado do futuro reconhece, como a capacidade para resolver problemas e a criatividade. Com formações de excelência, nacionais e internacionais, colecionam com orgulho seus diplomas de especializações, mestrados e PhD.   

Legenda: Natália Uchôa: "Nosso foco é resolver o problema de forma transparente e ética"
Foto: Acervo pessoal

“O mundo jurídico não nos define, porque estamos além dele”, resume Jéssica Teles. “Eu não sou apenas advogada, sou professora, trabalho com pesquisas voltadas para as mulheres na política e formação de lideranças. A Jana tem formação em Belas Artes, é ligada ao esporte e também à Administração e à área acadêmica. Já a Natália tem formação em Administração e experiência com o mercado financeiro”, elenca Jéssica.  

Natália explica que este olhar multidisciplinar amplia as possibilidades de atuação e permite a entrega de soluções inteligentes. “Além disso, trabalhar com compliance é ter envolvimento com diversas áreas de uma entidade, o que nos leva a adentrar em conhecimentos que não só os das normas: nos exige sensibilidade para tratar de pessoas, de expectativas, de futuro”, ilustra a advogada.  

Norteadas pelo lema “boa vontade, integridade e técnica mudam o mundo”, essas três mulheres, com diferentes trajetórias acadêmicas e particulares visões de mundo, contam como atuam no mercado local. “Natália possui uma visão empreendedora, é bem destemida. Jéssica possui qualidade técnica impressionante, o que nos traz segurança. Jana possui grande formação profissional, e muito relacionamento. Assim, temos empreendedorismo, técnica e relacionamento, o que tem nos deixado em uma posição de conforto para trabalharmos em conjunto”, avalia Natália.  

SORORIDADE 

Utilizando de técnica, empatia e escuta ativa, as advogadas acreditam que inteligência negocial e bom humor também contribuem para alcançarem a melhor performance no mercado. E ainda lidar com o machismo estrutural existente na categoria. Ouvir perguntas como “onde está o advogado?” ainda é uma realidade de muitas mulheres desta área. “Aqui nosso foco é resolver o problema de forma transparente e ética. O cliente que desejar tergiversar nossa forma de trabalho, é gentilmente convidado a constituir outro profissional”, argumenta Natália. 

Legenda: Jéssica Teles: “O mundo jurídico não nos define, porque estamos além dele”
Foto: Acervo pessoal

O que Natália, Jéssica e Jana estão construindo é um ponto fora da curva do Direito tradicional, pela qualidade profissional que apresentam, em um ambiente onde a presença feminina nas cúpulas ainda é escassa. “Isso decorre da existência de um telhado (ou teto) de vidro fortemente associado à maternidade e ao assédio sexual e moral sofrido no decorrer da carreira, além das desigualdades estruturais que se transpõem no meio, e são sentidos de forma muito subjetiva pelas mulheres. Quando esse tipo de prática deixa de ser uma questão na carreira, as mulheres podem se concentrar no que fazem de melhor, no trabalho”, analisa Jana. “A gente espera construir juntas um modelo de advocacia em que não sejamos definidas pelo fato sermos mulheres, em que possamos ser respeitadas e reconhecidas em nossas áreas independentemente de gênero e uma sociedade de advogadas baseada na sororidade”, projeta Jéssica.  

Movidas por este propósito, tendo a sororidade como valor, uma palavra que foi incluída este ano na língua portuguesa pela Academia Brasileira de Letras, as advogadas se orgulham de criar um ecossistema de trabalho que dá segurança às mulheres. “Nosso grupo de colaboradores, na realidade, é o que chamamos de grupo de apoio, pois nos sentimos seguras em viver uma vida real”, afirma Natália. “No nosso ambiente, as mulheres sentem felicidade em programar uma gestação, pois acreditam que seu afastamento será tranquilo e sem retaliações. Aqui, podemos ser fortes e destemidas e, ao mesmo tempo, frágeis e cautelosas. Podemos ser nós mesmas, mulheres”, reflete.  

TRAJETÓRIAS SINGULARES

Amor pelo trabalho, desejo de transformar a cultura organizacional de Empresas e do Estado, além de trazer um olhar para a igualdade de gênero na advocacia, é o que Natália, Jéssica e Jana têm em comum. Mas o que as tornam singulares são as trajetórias que cada uma construiu até se unirem em um projeto conjunto, tendo como inspiração pessoas fundamentais para a carreira.   

Natália Brandão é advogada instituidora da BR ADV, administradora de empresas do escritório ORGANIZ@ Soluções empresariais inteligentes, estudante de Contabilidade e mestranda em Controladoria e Economia pela FEAC/UFC. Possui formação em Gestão em Compliance no Insper e certificação profissional CPA-20, o que a habilita no trato junto à investidores profissionais. Possui vasta experiência como advogada e controller em fundos de investimentos, atuando no mercado de capitais desde 2014, ano em que foi empossada Diretora de Gestão de Risco e Compliance na Renda Asset Management, a primeira gestora de recursos sediada no Estado do Ceará. “Minha inspiração é o meu mentor e amigo, Tássio Dutra e Silva”. 

Jéssica Teles é advogada no escritório BR ADV, doutoranda em Direito na Universidade Federal do Ceará, professora doutora de Direito Eleitoral, Administrativo e de Prática Jurídica da UESPI, Coordenadora do Curso de Direito da FIED, integrante do Grupo UNINTA, Vice-Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/CE, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral (ABRADEP), com sede no Distrito Federal, pesquisadora do Grupo Ágora, colunista do Jornal Direito Administrativo, com sede no Rio de Janeiro, parecerista de Revistas Jurídicas e autora de livros, dentre eles, uma obra coordenada por Luiz Fux,  Ministro do Supremo Tribunal Federal. “Minha inspiração: Minha mãe”. 

Jana Brito é advogada da BR ADV, pesquisadora e consultora. Atualmente está presidente da comissão de Compliance da OAB. Possui doutorado em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Machenkzie com estágio internacional em Droit, Science Po. et Management na Universidade de La Rochelle, tendo sido bolsista CAPES PDSE e European Union’s Horizon 2020 research and innovation programme. Fez mestrado em Direito e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Ceará, pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas. Possui Formação em Belas Artes pelas Escola do Louvre. É professora na graduação e no mestrado, em Brasília e em São Paulo, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). “Quem me inspiram são meus avós e meus pais”. 

Legenda: Jana Brito: Modelo de advocacia baseado na sororidade
Foto: Acervo pessoal

SER MULHER ADVOGADA 

Para as profissionais, o lugar que ocupam no mundo é o que as define. “Ser advogada para mim é me reconhecer como mulher que tem como missão levar a justiça aos casos em que trabalho”, reflete Jéssica. “Mas levar a justiça não com qualquer perspectiva, mas com a visão, a tradução jurídica do meu lugar no mundo. O Direito é masculino até em sua produção. A baixa representação da mulher na política impacta na produção do Direito posto também. Quando nós, juristas mulheres, o interpretamos, seja como advogadas, juízas, membro do ministério público, assessoras, defensoras, nós incorporamos à norma, que nascerá da interpretação, nossa perspectiva social de ser mulher, grupo minorizado pelo poder e pela história, incorporando valores mais justos e igualitários a um direito pretensamente neutro. Como mulher advogada, assumo e exerço essa missão hermenêutica de construção e aplicação de um direito não androcêntrico”, arremata Jéssica. 

Fonte: diariodonordeste.verdesmares.com.br

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