Segundo Bolsonaro, Moraes “não cumpriu nenhum dos itens” combinados para que a carta fosse publicada, sem detalhar os termos do acordo.
A fala de Bolsonaro ocorreu em entrevista ao programa Perspectivas, do SBT. O presidente disse não ter gravações da conversa com Temer e Moraes.
“Não falei isso para ninguém, estou falando primeiro para você. Estava eu, Michel Temer e um telefone celular na minha frente. Ligamos para o Alexandre de Moraes e falamos três vezes com ele, e combinamos umas certas coisas para assinar aquela carta. Ele não cumpriu nenhum dos itens que eu combinei com ele”, disse.
“Logicamente, eu não gravei essa conversa, por questão de ética, jamais faria isso. Mas digo que o Alexandre de Moraes não cumpriu uma só das coisas que acertamos naquele momento para assinar aquela carta”, completou.
Questionado sobre o que foi combinado na ocasião, Bolsonaro disse que não iria responder.
“Não, não vou te falar. A carta está pública, nós combinamos ali, são outras questões para diminuir a pressão sobre essa perseguição que ele [Moraes] faz até hoje em cima de pessoas que me apoiam”, declarou o presidente, citando a cassação do mandato do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR), que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Em resposta, Temer afirmou, porém, que “não houve uma condicionante” para que o presidente divulgasse a carta em que recuou de seus ataques a Alexandre de Moraes (veja abaixo a nota do ex-presidente).
No feriado de Sete de Setembro de 2021, durante um protesto na avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro declarou que o sistema eleitoral brasileiro não oferecia segurança e disse que “qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá”.
“Acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”, afirmou, na ocasião.
Dois dias após a manifestação, Bolsonaro se reuniu com Temer e divulgou uma carta afirmando que não teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”.
Disse ainda que suas palavras “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento”.
Explicação sobre o uso do termo “ir à guerra”
Questionado sobre uma fala da semana passada, quando afirmou ter surgido “uma nova classe de ladrão” que tenta “roubar nossa liberdade” ― e, caso seja necessário, “iremos à guerra” ―, Bolsonaro respondeu que estava falando sobre manifestações não apenas nas ruas, porque isso “não sensibiliza Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso”.“É ir às ruas, mas também agora não apenas ir às ruas. Saber o que eu pretendo fazer em ato contínuo. Que a população apenas indo às ruas não sensibiliza Alexandre de Moraes, Fachin, Barroso, não sensibiliza essas pessoas. Eles estão num propósito de botar a esquerda no poder de novo”, atacou o presidente, citando novamente que Fachin foi “o relator do processo que botou o Lula em liberdade”, nas palavras de Bolsonaro.
A CNN procurou os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso, que preferiram não se manifestar. Temer divulgou uma nota afirmando que não houve condicionante para a elaboração da carta.
“Em relação à declaração de hoje do Senhor presidente da República sobre a assinatura da carta de 9 de setembro, tenho o dever de esclarecer que fui a Brasília naquela oportunidade com o objetivo de ajudar a pacificar o país e restabelecer o imperativo constitucional da harmonia entre os Poderes. As conversas se desenvolveram em alto nível como cabia a uma pauta de defesa da democracia. Não houve condicionantes e nem deveria haver pois tratávamos ali de fazer um gesto conjunto de boa vontade e grandeza entre dois Poderes do Estado brasileiro. Mais do que nunca, o momento é de prudência, responsabilidade, harmonia e paz.”
O presidente também foi questionado se o termo “ir à guerra” significa a utilização de armas. Bolsonaro negou.
“Ninguém vai pegar em armas não, não é isso. O pessoal sempre leva para um lado. Tem nada a ver. Essa guerra é uma guerra interna. Agora, nós devemos respeitar a manifestação popular. Isso é a essência da democracia. Pelo que parece, alguns aqui estão se lixando para isso. Mas não se esqueçam que a população, nós estamos do lado dela”, afirmou.
Ato no Sete de Setembro deste ano
Bolsonaro também afirmou que haverá um novo ato de Sete de Setembro neste ano, em meio à campanha eleitoral e menos de um mês antes do primeiro turno, marcado para 2 de outubro.Segundo ele, será “uma concentração nas capitais e também um apoio a um possível candidato que esteja disputando”.
“Pelo que estou vendo, está sendo organizado por aí, e eu aplaudo. Eles vão participar do Sete de Setembro aqui em Brasília, o povo deve participar. Não só pelo Sete de Setembro, mas também… quando fala de Sete de Setembro, é Independência, né? Nós queremos nossa total independência, liberdade de expressão, liberdade religiosa, de ir e vir, de consciência, e não aquilo que esses dois ou três do TSE querem impor para todos nós”, criticou.
Bolsonaro disse que pretende participar do ato, mas colocou em dúvida o deslocamento para outras capitais além de Brasília.
“A previsão é participar. Vai ter um grande desfile em Brasília, depois eu não sei se vou para algum lugar ou não. Mas estaremos em época de eleições. Eu não tenho como deslocar pelo Brasil com a força aérea comigo. É diferente nessa época, eu só posso me deslocar para eventos oficiais. Eu não posso participar de um evento em outro lugar qualquer, como uma manifestação positiva. Eu vou ver o que vou fazer na época. Mas pretendo participar sim desse movimento se a gente tiver recursos para tal”, disse.
Temer diz que momento é de prudência e responsabilidade
O ex-presidente Michel Temer (MDB) comentou o caso por meio de nota divulgada nesta terça (7).“Em relação à declaração de hoje do Senhor presidente da República sobre a assinatura da carta de 9 de setembro, tenho o dever de esclarecer que fui a Brasília naquela oportunidade com o objetivo de ajudar a pacificar o país e restabelecer o imperativo constitucional da harmonia entre os Poderes. As conversas se desenvolveram em alto nível como cabia a uma pauta de defesa da democracia. Não houve condicionantes e nem deveria haver pois tratávamos ali de fazer um gesto conjunto de boa vontade e grandeza entre dois Poderes do Estado brasileiro. Mais do que nunca, o momento é de prudência, responsabilidade, harmonia e paz”, disse o emedebista.
*Publicado por Marcelo Tuvuca, com informações de João Victor Soares, da CNN
Da CNN
Fonte: www.cnnbrasil.com.br
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