Sem se identificar, a funcionária contou que os servidores trabalhavam sob questionamentos intensos, bem como sofrendo com boicotes no andamento dos processos de trabalho
“A gente trabalha o tempo todo sendo questionado. Coisas corriqueiras de despacho de uma empresa, normalmente que a gente fazia, não podia ser feitas. Então por exemplo, um processo nosso que a gente demora uma manhã para resolver, a gente levava duas semanas, três semanas aquele negócio parado e não pode ir, não vai, não volta”, relata.
Além das documentações que ficavam paralisadas, a servidora contou que os ciclos de treinamento com chefes e tutores também foram boicotados.
“Uma coisa que pode até ser vista, os ciclos com tutor, por exemplo, a gente tem quatro ciclos ao longo do ano na Polícia Federal. Os quatro primeiros não aconteceram”, revela.
A funcionária conta que ela própria começou a perceber que estava sofrendo assédio moral no trabalho quando a sua terapeuta a fez chegar a essa conclusão depois de ouvir os seus relatos.
“Eu já vi muitos colegas contando histórias tristes de que ‘passei por isso, por aquilo’, mas sempre com aquela frase de que ‘mas isso é normal na Polícia’. Então dessa forma que aconteceu eu realmente nunca vi, nunca havia presenciado. E ver acontecer comigo foi muito triste".
“Faço terapia uma vez por semana. Esse assunto do trabalho ficou latente nas sessões e num dado momento a terapeuta falou: ‘Você está entendendo o que está acontecendo com você?’. Eu olhei para ela porque a minha ficha não tinha caído. Ela falou assim: ‘Você está sofrendo assédio moral’”, conta.
"Vão ficar esquecidos em algum lugar, diz delegado
Ao serem comunicados de que toda equipe deveria sair do setor de ensino à distância da Academia Nacional de Polícia (ANP), os agentes administrativos e policias que atuavam no local procuraram o diretor de Gestão de Pessoas, Guilherme Monseff de Biagi.
Ele recebeu o grupo em maio, em uma reunião com a presença de representantes do sindicato e do ex-diretor-geral da PF, Fernando Segóvia, que hoje é delegado aposentado e se apresentou como advogado dos servidores naquele momento.
A GloboNews teve acesso ao áudio da reunião, que durou uma hora. Durante a conversa, os agentes relataram terem sido vítimas de assédio moral e que estavam comunicando a administração para conhecimento dos fatos e medidas cabíveis.
Em resposta, o diretor de gestão de pessoas disse que os servidores tinham o direito de acionar a Corregedoria ou a Justiça, mas aconselhou que os servidores não questionassem decisões tomadas pela PF, porque assim sofreriam retaliações.
"Se vocês ficarem de guerra com a administração, o máximo que vai acontecer é vocês ficarem esquecidos em algum lugar. É o melhor que vai acontecer. Confiem em mim. Acreditem no que eu estou falando. Brigar com a administração por conta de uma decisão pode ter sido a pior decisão para vocês. (....) O que eu quero dizer, e volto pro ponto. Vamos pensar na nossa vida daqui pra frente, a decisão eu não tenho como voltar e mudar. Se as decisões foram bem tomadas, se o processo foi mal-conduzido ou bem conduzido... o que as pessoas podem fazer em relação a isso?", disse Guilherme de Biagi.
Outro lado
A Polícia Federal, em nota, negou o assédio e disse que passou por reestruturação interna, o que inclui a nomeação de novos diretores e superintendentes regionais, bem como funções de assessoramento, que nesse processo é natural a movimentação de servidores. Veja a íntegra da nota:
"A Polícia Federal passou por reestruturação interna, o que inclui a nomeação de novos diretores e superintendentes regionais, bem como funções de assessoramento. Tal movimento é natural em trocas de gestão e segue as diretrizes da nova direção do órgão. Nesse contexto também estão movimentações de servidores, previstas em normativos legais.
Todas as denúncias encaminhadas à Polícia Federal recebem o devido tratamento. Ressalte-se, ainda, que a instituição tem adotado iniciativas para promover o bem estar e a saúde dos servidores, a exemplo do programa “PF por Elas”, um canal em que servidoras podem denunciar de forma anônima assédio moral e sexual dentro da Instituição, e o “Rosa dos Ventos”, que estabelece um plano de ação institucional de prevenção ao adoecimento mental e ao suicídio."
Por Isabela Leite, GloboNews e g1
Fonte: g1.globo.com
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