Demissão foi rápida
Tornar-se mãe era um sonho de Alves. A advogada diz que entendeu que era o momento ideal para engravidar já que trabalhava há anos na mesma companhia e tinha uma situação estável.
"No dia que eu retornei da minha licença-maternidade, cheguei na empresa e já fui direto para uma sala de reunião onde aconteceu o meu desligamento. Em cinco minutos, fui desligada de sete anos de empresa. Não tive a oportunidade nem de trabalhar naquele dia, não recebi nem meus equipamentos de volta, nada."*Márcia Alves, advogada
A empresa afirmou que a demissão foi motivada por performance. Ela diz que a notícia foi recebida com surpresa pelos colegas de trabalho, porque havia tido feedbacks positivos em seu último ciclo de avaliação profissional. Alves ficou de licença por sete meses, somando o período garantido por lei e as férias. A advogada preferiu omitir o nome da empresa da qual foi demitida.
Alves percebeu que a gravidez poderia ser vista como um problema quando anunciou a novidade. Alves afirma que não marcava consultas médicas durante o expediente para não causar nenhum desconforto. Além de seu cargo, atuava como líder de diversidade e inclusão na empresa.
Apesar de saber que as demissões na volta da licença são comuns, Alves não esperava que acontecesse com ela. Uma pesquisa da Empregos.com.br de 2023 mostra que 56% das mulheres já foram demitidas ou conhecem alguma mulher que passou por isso na volta da licença-maternidade.
"É uma mistura de sentimentos. De imaginar que pode acontecer porque você sabe que acontece com muita gente, ao mesmo tempo de pensar 'tomara que não aconteça'. Mesmo com essa preocupação, somada com a de se desligar ali algumas horas do seu dia com a sua bebê, que é totalmente dependente, eu estampei o sorriso no rosto e fui trabalhar naquele dia. Foi um abalo, uma grande surpresa."*Márcia Alves, advogada
Volta ao mercado
Agora Alves busca por uma recolocação no mercado. A advogada já tinha se programado para voltar ao trabalho da licença, havia ordenhado leite para deixar para sua filha na sua ausência e contratado uma pessoa para cuidar da bebê.
"Eu me programei para poder voltar ao mercado. Trabalhar é uma parte de quem eu sou, a minha carreira é uma parte de mim também. Além de mãe, eu também sou profissional."*Márcia Alves, advogada
Alves está participando de alguns processos seletivos. No entanto, ainda não conseguiu uma nova oportunidade e está desempregada desde o final de março. Agora se depara com a dificuldade de ser mãe de uma bebê pequena em busca de uma nova vaga. Ela conta que já ouviu de recrutadores que deve ser difícil trabalhar neste momento da vida.
"É um desafio encontrar energia para participar de processos seletivos depois de um momento de abalo emocional profundo, de ser demitida após a licença-maternidade e ainda ouvir os comentários que, infelizmente, a gente sabe que são uma realidade para a mulher que é mãe. Mas sigo firme na busca da minha recolocação. Como costumo dizer, as mulheres não têm tempo para luto, temos que correr atrás e seguir em frente."*Márcia Alves, advogados
Demissão em momento sensível
A demissão pós-licença é muito mais dolorida para as mulheres do que não ser contratada devido à gravidez. É o que diz Jhenyffer Coutinho, CEO e cofundadora da Plure, startup de recursos humanos especialista em conectar empresas a mulheres. Normalmente as companhias não dizem que a demissão tem ligação com a gravidez e sim que encontraram alguém melhor durante a licença.
A demissão na volta da licença é um caso clássico de discriminação. Maíra Liguori, cofundadora da Think Eva, consultoria para equidade de gênero, afirma que a mulher está fragilizada de diversas formas neste momento da vida e a demissão vem como um baque.
"Essa mulher que está chegando da licença é uma pessoa que está fragilizada em vários aspectos da vida. Emocionalmente, fisicamente, ela não dorme, dá de mamar, o corpo tem alguns efeitos que não são os de sempre, aprendendo a transitar dentro de um universo novo, sobrecarregada, mas isso não implica um ônus no trabalho."*Maíra Liguori, cofundadora da Think Eva
Giuliana Saringer
Fonte: @uoleconomia
Advocacia é uma profissão ingrata. Trabalhamos pelos direitos trabalhistas dos outros sendo que não temos nossos próprios direito, pois não temos vínculo empregatício. Ela teria direito a aviso prévio, mas basta sentar e chorar para nós depois de um rompimento de contrato, infelizmente. Tudo pelo alto lucro das bancas.
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