O Banco do Brasil negou que ele foi impedido de entrar, disse que as agências estão com acesso limitado por causa da pandemia e que ele entrou posteriormente seguindo o novo regramento. Alega ainda que a pessoa que entrou logo após ele é uma prestadora de serviço do banco, que tem livre acesso à agência (veja a íntegra ao final do texto).
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) disse que repudia “com veemência, qualquer contexto de discriminação envolvendo seus inscritos ou a qualquer outro cidadão” e que já contatou o advogado oferecendo apoio (leia também a nota completa ao final do texto).
O episódio ocorreu no último dia 22. Jonas contou que foi ao local acompanhado de sua cliente, uma senhora de baixo grau de instrução e que precisava de seu auxílio para resolver pendências referentes a um benefício do INSS, vinculado ao filho dela, que não estava recebendo.
No entanto, ao chegar ao banco, ele disse que tirou seus itens de metal e tentou entrar, mas o guarda travou a porta. Segundos depois, segundo o advogado, uma mulher branca aparece e tem o acesso liberado normalmente. A cliente de Jonas é autorizada a entrar em seguida, mas ele novamente é impedido. O advogado afirma que questionou o funcionário, mas não obteve explicação.
"Qual é a justificativa para isso? Eu não consigo encontrar nenhuma conclusiva e positiva, nesse sentido, a não ser que houve um preconceito comigo nessa situação. Acredito que fui vítima de racismo", disse o advogado.
Jonas afirma que tentou argumentar, em vão, para poder entrar. Neste momento, ele afirmou que ligou para o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) do banco, quando foi informado que a questão teria de ser resolvida com a "gerência local".
"Quando eu estava ligando, ele começou a autorizar outras pessoas a entrarem na agência. Eu desligo o telefone, vou entrar e ele trava novamente a porta para mim, não me deixando entrar", pontua.
Neste momento, o advogado disse que pegou o celular para filmar a agência, com o intuito de mostrar que o local não estava cheio e que outras pessoas estavam entrando, mas ele continuava sendo barrado
Minutos depois, conforme o advogado, a entrada foi autorizada. No entanto, ele afirma que alguém acionou a polícia e que só foi autorizado a entrar quando isso aconteceu .
"Ao entrar, eu questiono a gerente porque eles não autorizaram minha entrada. A gerente fala para mim que é por conta da Covid, porque a agência estava cheia. Só que a agência não estava cheia e várias pessoas entraram antes de mim, e eu não entrei", destaca.
Investigação
Dois dias depois, Jonas foi até a delegacia e registrou uma ocorrência com base na Lei 7.716/1989, que define crimes resultantes de preconceito, no artigo que versa sobre impedir alguém de adentrar um estabelecimento por causa da cor da pele.Ele narrou toda a história e voltou a reafirmar que acredita ter sido barrado "simplesmente por sua cor da pele, pois é negro, que acha que foi vítima de racismo".
O delegado Mário Moraes, responsável pelo caso, disse que o caso já está sendo investigado.
"A gente está fazendo o levantamento preliminar. A ocorrência vale por si. A gente precisa levantar mais informações. Já está sendo feito um levantamento para saber a procedência do que foi dito ou não. Com certeza já está sendo apurado", afirmou.
Jonas disse que já passou por episódios de racismo em outras circunstâncias e que sabe "as características" de quando essa situação acontece.
"É muito dolorido. É um sentimento de impotência, de incapacidade, de injustiça", afirma.
Nota do Banco do Brasil:
O Banco do Brasil informa que suas agências em todo país estão com atendimento contingenciado e horário reduzido desde o mês de março, quando foi decretada a pandemia do coronavírus. Enquanto durar o período de contingência, o atendimento presencial e acesso às agências é limitado, de forma a garantir o distanciamento mínimo recomendado pelo Ministério da Saúde e, no caso de Anicuns, por decretos locais que tratam da situação de emergência em saúde pública (Decretos municipal 2.627/2020 e estadual 9638/2020).Sobre a ocorrência, o BB esclarece que o usuário não foi impedido de entrar, mas apenas informado de que o mesmo seria autorizado a acessar o espaço interno da unidade assim que tivesse início o atendimento à sua cliente, o que de fato ocorreu quando a cliente foi chamada ao atendimento, e ele foi autorizado a acessar o espaço do interior da agência. Esse foi um protocolo adotado pela agência com a finalidade de diminuir o fluxo de pessoas no interior da unidade e atender aos decretos que tratam da situação de emergência em saúde pública.
A mulher que ele faz referência, informando que teve a entrada autorizada, é da Empresa de Assistência Técnica conveniada ao BB, que fornece laudos ao Banco, e que, portanto, desempenha um trabalho que exige livre acesso à agência.
Nota da OAB-GO:
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) repudia, com veemência, qualquer contexto de discriminação envolvendo seus inscritos ou a qualquer outro cidadão. A Ordem está de prontidão para preservar a prerrogativa profissional do advogado de acompanhar seu cliente e para defender o direito do cidadão ante qualquer ato de criminosa intolerância.A OAB-GO informa que já entrou em contato com o advogado oferecendo apoio e o caso se encontra sob acompanhamento das comissões de Direito Bancário e de Direitos e Prerrogativas da Seccional.
Por Sílvio Túlio, G1 GO
Fonte: g1.globo.com
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