Como criar conexão com os jurados no Tribunal do Júri

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bit.ly/36tqli4 | Era um domingo, dia quente, um dia daqueles em que resolvemos fazer uma faxina com tudo que se tem direito, como marido obediente que era, Moacir acatou a ordem de podar as árvores na frente do pátio de casa. Tinha certa dificuldade, seu passado lhe deixou marcas que não se apagariam, tanto psicológica quanto fisicamente.

Moacir já havia cometido o delito de roubo, fora processado e condenado, cumpriu sua pena, e buscava nesses dias, passar o tempo que não havia passado com sua família, enquanto esteve enclausurado.

O passado havia deixado marcas, numa dessas investidas “no crime”, acabou sofrendo um disparo de arma de fogo que lhe tirou o movimento de metade do corpo, aquela poda de árvores era uma grande aventura para ele, o esforço era muito maior do que naqueles tempos em que era saudável, ah se o tempo voltasse…

Mas infelizmente o tempo não volta, e essas marcas permanecerão para sempre. A vida tinha mudado em muitos aspectos, exceto pela casa onde morava, era a mesma de outrora. A mesma casa, da mesma rua, no mesmo bairro.

Os perigos ainda moravam perto, nessas condições era difícil conseguir se mudar para um lugar melhor. Queria muito ver o filho crescer longe de lá, crescer num lugar melhor, mas nessas condições não tinha escolha.

E justo nesse dia, nesse dia de calor e recordações se ouvem disparos de arma de fogo, na rua de trás da sua casa, mais uma vítima da guerra do tráfico, rapaz jovem, com uma ficha extensa, mais um ou menos um?

Uma história, uma narração que faz o jurado visualizar e muitas vezes sentir o que desejamos. Um ponto de vista defensivo que contrapõe a denúncia feita pelo Ministério Público.

Sempre ouvi que os melhores plenaristas são aqueles que melhor contam histórias, e quanto mais o tempo passa, mais percebo que essa habilidade é uma das maiores ferramentas para se conectar com os jurados.

Uma boa história nos prende, nos faz caminhar por uma trilha e enxergar algo que sequer vivenciamos, e é algo que não podemos controlar, basta eu descrever neste momento, por exemplo, uma bicicleta rosa sendo guiada por um filhote de elefante, e este filhote com uma tromba bem pequena, se equilibra e equilibra seu chapéu de palha verde. E pronto. Você é capaz de, mesmo sem a menor possibilidade dessa cena acontecer, imaginar ela em detalhes.

As palavras possuem muito poder, e a condução que é feita dos ouvintes pelas nossas narrativas também. Criar um enredo, ou enredos, e neste enredo criar links de conexão com as provas produzidas, pode fazer o jurado percorrer toda tese defensiva de forma atenta. E a depender da lógica exposta, perceber por si próprio o desfecho da “história”.

No último plenário que fiz, do réu que aqui chamo de Moacir, o Ministério Público produziu uma denúncia horrenda, outra “história”, e cabe à defesa tornar a sua mais envolvente, mais lógica, com mais fundamento.

Sem exagerar nos detalhes para não ficar cansativo, mas detalhando de forma suficiente para que a imaginação dos jurados explore os caminhos indicados, conecte os elementos de prova, vislumbre o estado dos envolvidos no dia do fato e o que mais possa interessar.

Aprender a recontar histórias é algo fundamental para um bom discurso defensivo, tenho que para contar boas histórias é essencial ler bons contadores de histórias, explore a literatura, Eduardo Galeano, Rubem Alves, e tantos outros que nos ensinam a arte de convencer através de fortes narrativas.

Quer conexão? conte uma boa história.
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Felipe Geitens
Fonte: Canal Ciências Criminais

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