No ano passado, a Justiça de São Paulo negou todos os pedidos de prisão domiciliar para o detento - o último foi em junho - por entender que o histórico prisional dele não permite benefício. Para a Polícia Civil, o prisioneiro tem ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Chamado de Pedrão no sistema carcerário, o criminoso foi acusado por ao menos 15 sequestros no estado de São Paulo. Ele se especializou nessa modalidade de crime na Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte da capital, em meados dos anos 1990.
Os "professores" dele foram os sequestradores do empresário Abílio Diniz, dono da rede Pão de Açúcar. A vítima foi arrebatada em 11 de dezembro de 1989. Os criminosos pertenciam ao grupo guerrilheiro MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), do Chile.
Eram quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro. Pedrão conviveu com parte da quadrilha entre 12 de janeiro de 1993 a 19 de dezembro de 1995. Os chefes do bando eram o canadense David Spencer e o argentino Humberto Paz. Os estrangeiros foram extraditados.
Em 19 de dezembro de 1995, Pedrão foi transferido para o regime semiaberto no CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Mongaguá (SP), e fugiu em 24 de janeiro de 1996. Essa foi a segunda fuga dele. No total, ele ficou nove anos foragido.
A prisão dele era questão de honra para a polícia paulista, mas isso demorou a acontecer. Pedrão só foi recapturado sete anos depois, em 10 de fevereiro de 2003, em Curitiba (PR), por policiais civis do Denarc (Departamento Estadual de Narcóticos), de São Paulo.
Foi durante a segunda fuga que Pedrão cometeu os piores crimes, todos registrados em sua extensa ficha de antecedentes. No dia em que foi preso pela equipe do delegado Everardo Tanganelli, ele confessou oito sequestros.
Muitas vítimas enfrentaram meses de terror nas mãos da quadrilha de Pedrão. Ficavam encapuzadas em quartos escuros com luz de lampião e sem ventilação. Eram obrigadas a fazer a necessidade fisiológica em balde. Ele mandava às famílias das pessoas sequestradas fotos delas com fuzis e metralhadoras apontados para a cabeça.
Eis os sequestros confessados por Pedrão, segundo a Polícia Civil:
- Girz Aronson, dono da rede de lojas G Aronson, sequestrado aos 82 anos em 17 de julho de 1998. Ficou 14 dias em cativeiro;
- Paula Cristina de Antonio, filha do dono da Paulimar, sequestrada aos 21 anos em abril de 1999. Ficou 29 dias em cativeiro;
- Abraão Zarzur, dono do Banco Mercantil de Descontos e acionista da Ripasa, multinacional de celulose, sequestrado aos 82 anos em 22 de janeiro de 2000. Ficou 44 dias em cativeiro;
- Eduardo Tonin, 18, filho do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Indaiatuba (PMDB), José Carlos Tonin, sequestrado em 26 de junho de 2000. Ficou 30 dias em cativeiro;
- Samira, 40 e Vanessa Salete Santana Martos, 17, mulher e filha do pecuarista Mauro Martos, sequestradas em 16 de novembro de 2000. Ficaram 54 dias em cativeiro;
- José Lanaro, filho de dono de lotéricas em Sorocaba, sequestrado e morto aos 24 anos com 14 tiros em 27 de junho de 2001 quando tentava fugir dos criminosos;
- Roberto Benito Júnior, herdeiro das Lojas Cem, sequestrado aos 35 anos em 2 de outubro de 2001. Ficou 120 dias no cativeiro;
- João Bertin, dono do frigorífico Bertin, sequestrado aos 82 anos em 8 de setembro de 2002. Ficou 155 dias (cinco meses) em cativeiro. Foi o sequestro mais longo até então registrado no Brasil;
A Polícia Civil apurou que o bando de Pedrão tinha 38 integrantes e era dividido em várias células nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto, Bauru e Presidente Prudente. Investigadores calculam que Pedrão arrecadou US$ 1,1 milhão (R$ 6,1 milhões na cotação atual) com os resgates pagos pelos familiares das vítimas.
Pedrão está recolhido na Penitenciária 1 de Avaré (SP). Ele foi preso pela primeira vez em 11 de maio de 1977. O advogado dele, Eduardo Diamante, disse que somando o tempo em que o cliente ficou preso - antes e depois das fugas - ultrapassa 30 anos e, por isso, ele tem direito à prisão domiciliar.
Segundo o advogado, Pedrão sofre de diabetes, hipertensão e problemas respiratórios, é do grupo de alto risco e suscetível a pegar covid-19, necessitando ser solto. Diamante explicou que cuida apenas da execução criminal do preso e que não era defensor dele nos processos de sequestros.
Para a Justiça, o histórico prisional de Pedrão não permite benefício porque ele cometeu crimes gravíssimos, sendo um roubo e oito sequestros - um deles seguido de homicídio - somente no segundo período em que ficou foragido.
Além disso, Pedrão foi acusado pela Justiça de ter praticado quatro faltas graves na prisão, a última em 6 de fevereiro de 2007, e só poderia ter direito à progressão de regime em 2044.
Em relação ao risco de Pedrão contrair coronavírus na cadeia, a Justiça entende que a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária tem adotado medidas articuladas para impedir a disseminação da doença no sistema prisional.
Josmar Jozino
Colunista do UOL
Fonte: noticias.uol.com.br
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