Três evangélicos disputam nos bastidores vaga que será aberta no STF em julho; veja quem são

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A promoção do juiz federal carioca William Douglas dos Santos a desembargador no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, prevista para fevereiro, vai expor mais um lance da disputa silenciosa que ocorre nos bastidores pela próxima vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a ser indicada em julho, após a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.

Juízes de primeiro grau costumam ser preteridos na corrida que, além de William Douglas, já tem outros dois nomes se movimentando nos bastidores: o ministro da Justiça, André Mendonça, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins.

No fim do ano passado, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) recebeu em seu gabinete o juiz carioca que vai virar desembargador para tratar da nomeação. O magistrado é o preferido de lideranças evangélicas como o bispo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, e o missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, além de ser visto com bons olhos pela maioria da bancada da Bíblia no Congresso Nacional.

— Os evangélicos já representam quase 40% da população e não há nenhum ministro evangélico no STF, apenas católicos e judeus. André Mendonça é um bom nome, mas talvez não tenha a capacidade jurídica de William Douglas — afirma R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus. — Ele é um homem íntegro, de família, com princípios e valores cristãos. Seria um bom nome, mas há outros — completa Estevam Hernandes.

Quem colocou as igrejas como atores preponderantes no processo foi o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, ele prometeu entregar uma das duas vagas que tem direito a preencher durante o mandato para alguém "terrivelmente evangélico". Quando selecionou o piauaiense Kassio Nunes Marques para a vaga do decano Celso de Mello, Bolsonaro deixou as lideranças irritadas por não serem contempladas. O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos seus principais apoiadores, gravou vídeos contra a escolha, e o rompimento da aliança com o Planalto quase aconteceu.

Em outubro do ano passado, para aplacar a ira da bancada evangélica, o presidente dobrou a aposta no discurso e disse em evento da Assembleia de Deus que escolheria não apenas um fiel, mas um pastor para o STF. Se realmente cumprir a promessa, apenas William Douglas e André Mendonça preencheriam os requisitos.

Malafaia, que até o ano passado apresentava-se como defensor do nome de William Douglas, passou a não se opor mais caso o ministro da Justiça de Bolsonaro seja indicado. "Ele contemplaria os evangélicos", tem dito a interlocutores.

Nas últimas semanas, André Mendonça subiu na bolsa de apostas para a Corte por dois motivos: tem se mostrado leal ao presidente, seja batendo recorde de abertura de inquéritos com base na Lei de Segurança Nacional em cima de críticos do Planalto ou atacando seus adversários (no fim do ano disparou nas redes contra o ex-ministro Sergio Moro). Além disso, Mendonça não é rejeitado no STF, sendo elogiado com frequência pelo presidente Luiz Fux.

— André representa os nossos valores, é um grande jurista e tem experiência em Brasília. Sabe como a engrenagem funciona — afirma o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), um dos mais próximos de Bolsonaro na bancada evangélica.

As trajetórias dos dois favoritos ao posto são distintas. William Douglas, de 53 anos, tem no currículo três décadas como advogado, delegado, defensor público e juiz, além de uma carreira de sucesso com a venda de livros (são 59 ao todo nas áreas de preparo para concursos públicos, desenvolvimento pessoal e outros). Já Mendonça, de 48 anos, começou como advogado da BR Distribuidora e ingressou na carreira de advogado da União em 2000, onde exerceu diversas funções até ser nomeado no início do governo Bolsonaro como chefe da Advocacia-Geral da União (AGU).

Universal sem posição

Atualmente, o que une William Douglas e Mendonça são as críticas de quem quer trabalhar contra a nomeação de cada um. Mendonça é alvo de comentários negativos por ser presbiteriano e a igreja não ser representativa politicamente para o meio evangélico, além de ter um artigo publicado elogiando a eleição de Lula em 2002. Já William Douglas vem sendo questionado em segmentos conservadores por ser historicamente favorável a políticas afirmativas de inclusão, como as cotas para negros em universidades públicas.

Por ora, é incerta a postura da Igreja Universal do Reino de Deus, a denominação evangélica brasileira com maior participação na política, controlada pelo bispo Edir Macedo. O presidente do Republicanos, o advogado Marcos Pereira, chegou a ser cogitado para a vaga, mas ele nega a ambição. Antes de ser preso, o ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, sinalizou que sua intenção era apoiar o juiz William Douglas. Macedo ainda não se manifestou sobre o tema.

Correndo por fora, o presidente do STJ, o adventista Humberto Martins, de 64 anos, vem aumentando seu cacife com dois movimentos: comparecendo a eventos evangélicos e sinalizando que sua nomeação poderia abrir outra vaga em uma corte superior. O alagoano tem como ativo a entrada em diferentes segmentos políticos. Foi nomeado por Lula para o STJ em 2006 com apoio do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Hoje, mantém canal aberto com o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) , rival de Calheiros e candidato apoiado por Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara. E é elogiado na família presidencial por ter aberto, de ofício, uma investigação no ano passado em cima do juiz Flávio Itabaiana, responsável pelas quebras de sigilo de Flávio Bolsonaro no inquérito das rachadinhas. Pesam contra o ministro as investidas da operação Lava-Jato contra o seu filho, Eduardo Martins, investigado por uma suposta influência em julgamentos na Corte.

— Humberto Martins é amigo e competente, assim como William Douglas e André Mendonça. Pena ter apenas uma vaga — afirma o bispo Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra.

Caso não atenda aos anseios evangélicos mais uma vez, o nome que voltou a circular na última semana como hipótese de nomeação é o do atual procurador-geral da República, Augusto Aras. Em comum, Aras, William Douglas, André Mendonça e Humberto Martins apresentam o mesmo tipo de discurso para o meio político: as operações de combate à corrupção dos últimos anos foram importantes, mas é preciso corrigir os excessos.

Agência O Globo | @jornalovale
Fonte: www.ovale.com.br

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