O flagrante citado por ele aconteceu na comunidade Nhocuné. Os policiais descobriram que um homem que era mantido refém no chamado tribunal do crime, na mira de criminosos ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
No entanto, após o real flagrante, Da Cunha colocou a vítima de volta no cativeiro e 'encenou' a ação policial que havia acabado de acontecer. Desta vez, ele filmou as cenas para publicar em seu canal no Youtube, que atualmente conta com 3,6 milhões de seguidores.
A gravação foi publicada e distribuída a diversos veículos de comunicação, como se fosse a verdadeira operação que, na verdade, não foi feita por ele. A descoberta da encenação aconteceu após depoimentos de policiais envolvidos na operação e outras testemunhas ao Ministério Público, durante uma investigação sobre a conduta do delegado.
Nesta quarta-feira (22), em transmissão ao vivo do podcast dele no Youtube, Da Cunha assumiu a encenação do flagrante e se defendeu dizendo que se tratava de uma reprodução simulada dos fatos.
"Essa prova é produzida pelo delegado de polícia. Então, assim, foi uma decisão minha no momento. A 'cana' [prisão] foi dada e eu quis novamente registrar a cana. Isso acontece muito em inquéritos de homicídios", disse.
"Então, o que eu queria e nós queríamos era que a população entendesse o que é um tribunal do crime [...]. A gente chegou lá e estourou o barraco, salvando a vida dele sim. É só perguntar para a vítima", finalizou.
Reprodução simulada
Por telefone, em entrevista ao g1, o delegado Da Cunha afirmou que o vídeo tratou-se de uma reprodução simulada do crime para produzir provas que ele, como autoridade, teria poder para autorizar. Ele cita o Art. 7º do Código de Processo Penal:"Art. 7º - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública".
Da Cunha explicou que o flagrante foi feito por outra equipe enquanto uma operação era realizada na comunidade e, por isso, não havia sido gravada na primeira vez. Segundo ele, o tribunal do crime era investigado há meses, mas os policiais ainda não haviam conseguido interromper um julgamento em andamento. "Olhei aquele circo armado e pensei: 'meu, isso aqui é um negócio muito forte. Eu preciso registrar'", contou.
O delegado também disse que teve a autorização da vítima. Segundo ele, ela permitiu ser recolocada no cativeiro com os criminosos e aguardar pela nova entrada dos policiais. Da Cunha disse, ainda, que não houve perigo à vítima, já que a comunidade "estava dominada".
Em nota, a Polícia Civil do Estado de São Paulo esclarece que o delegado licenciou-se do cargo em 16 de agosto de 2021 e responde a vários procedimentos administrativos disciplinares junto ao órgão corregedor da instituição.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, dois desses processos foram concluídos, com instauração dos respectivos inquéritos, que resultaram no indiciamento do autor pela prática de crimes contra a honra, abuso de autoridade e peculato, crimes relacionados à suspeita de uso indevido da estrutura da Polícia Civil em proveito próprio, objetivando visibilidade em redes sociais e ganhos financeiros indevidos.
*Veja o vídeo da matéria na íntegra, aqui
Por Juliana Steil, g1 Santos
Fonte: g1.globo.com
Postar um comentário
Agradecemos pelo seu comentário!