Fantástico revela imagens de ação policial que terminou em execução em SP

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Via @portalg1 | O Fantástico revela imagens exclusivas de uma ação policial em São José dos Campos, interior de São Paulo, no dia 9 de setembro deste ano, que terminou em execução (relembre o caso aqui). Segundo as investigações, o suspeito que foi morto estava desarmado e já dominado pelos PMs, e a Corregedoria também acusa os policiais de montar uma farsa para alterar a cena do crime e parecer que tinha havido um confronto.

O caso começou com policiais de um grupo de elite atrás de suspeitos de um roubo. Na viatura, havia quatro PMs, e no carro perseguido, cinco suspeitos. O resultado: um suspeito morto, um baleado e três presos.

O segundo-sargento Frederico Inácio de Souza, que chefiava a equipe, foi quem matou o suspeito.

“Dando ordem que descesse, ele sacou a arma. Eu efetuei dois ou três disparos. Se não me engano, três disparos. (...) De fuzil”, disse Inácio de Souza.

Segundo a Corregedoria da Polícia Militar, no entanto, o suspeito não sacou nenhuma arma. O que houve foi uma execução.

Os PMs são do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep). Desde junho, os homens desta tropa são obrigados a usar câmeras na farda durante as ocorrências. O Fantástico teve acesso às investigações da Corregedoria sobre a ação e, também, às imagens das câmeras corporais.

O que elas revelam é, segundo a Corregedoria, uma grande farsa para tentar encobrir a violência policial e escapar das punições.

Tudo começou com um roubo a dois mercadinhos que ficam na mesma rua. Um dos assaltantes chegou a ameaçar um casal que está com um bebê no colo, e os ladrões, usando máscaras, fugiram levando cigarros, dinheiro e celulares. Dois criminosos estavam armados: um deles tinha um revólver, e o outro, uma pistola de brinquedo.

A equipe do sargento Inácio estava próxima do local. Além do assalto aos mercadinhos, também havia um alerta sobre um carro roubado no dia anterior. Os policias identificam o veículo e começam a persegui-lo. No caminho, os suspeitos jogaram fora a pistola de brinquedo.

O carro dos suspeitos bateu num poste em frente a um condomínio, e as quatro câmeras, dos quatro policiais, gravaram tudo. Na abordagem, o braço do chefe da equipe encobre parte da câmera, mas dá para ouvir que o sargento Inácio atira três vezes. No momento dos disparos, de acordo com a Corregedoria, o soldado Elenilson coloca de propósito a mão na lente da câmera.

O Fantástico mostrou as imagens para dois especialistas em segurança pública.

“É claramente uma cena de execução. Ele estava já com as mãos na cabeça, ele tinha se rendido”, diz a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

“As cenas são muito claras. O que não pode é o policial praticar uma ação em que ele é o juiz, ele é o policial e ele é o executor”, completa Glauco Carvalho, coronel da reserva da Polícia Militar.

Segundo a Corregedoria, imediatamente após os tiros, os PMs começam a alterar a cena do crime para parecer que tinha acontecido um confronto. Só depois disso é que os policiais prendem os outros suspeitos.

E só depois dos tiros e da alteração da cena do crime é que os PMs confirmaram que os suspeitos realmente haviam participado do roubo aos mercadinhos.

Segundo a Corregedoria, faltava um ponto ainda para a farsa ficar completa, para parecer que dois ladrões tinham sacado as armas, porque a pistola de brinquedo tinha sido abandonada na perseguição, e só existia um revólver na cena do crime – que tinha sido colocado pelos policiais junto ao corpo do homem executado.

A Corregedoria só entendeu o que aconteceu depois de analisar a sequência de imagens que mostra uma segunda equipe, também do Baep, chegando assim que o carro dos suspeitos bate no poste.

Um soldado imediato põe a mão na câmera, impedindo a gravação, e a Corregedoria diz que outros PMs ficam de costas também para não registrar o que vai acontecer. Foi a estratégia para conseguir “plantar” mais uma arma, forjar mais uma vez a cena do crime.

A investigação descobriu que o soldado imediato tinha levado uma pistola de numeração raspada para o local. E que, por causa da combinação entre os policiais, não há registro do momento em que a arma foi colocada dentro do carro dos assaltantes.

Mas a Corregedoria tem certeza de que a pistola foi a apresentada pelos policiais como sendo a dos ladrões do mercadinho. Segundo a investigação, foi assim que os PMs conseguiram concluir a farsa. Por causa da acusação de homicídio, o caso foi parar na Justiça comum.

O promotor Luiz Fernando Ambrogi, do Ministério Público de São Paulo, disse que “as provas ainda não permitem identificar de forma mais detalhada a ação de cada suspeito, havendo necessidade de um maior aprofundamento nas investigações.” Ele alegou ainda que “os indiciados são primários e ostentam bons antecedentes.”

O juiz do caso determinou que os acusados respondam em liberdade. Eles foram retirados das ruas e trabalham agora em funções administrativas.

O assaltante do mercadinho que sobreviveu, por usar um colete à prova de balas, tem 16 anos e agora cumpre medida socioeducativa. Ele foi criado pela avó. O pai está preso, e a mãe é usuária de drogas.

Outro assaltante do mercadinho já havia sido preso por tráfico e roubo. Dois deles não tinham antecedentes criminais.

Vinicius Castro Gomes, que foi morto com três tiros de fuzil, era condenado por receptação e posse ilegal de arma. O pai dele fez um desabafo.

“Assim como os outros quatro estão pagando pelos erros deles, meu filho deveria estar junto lá pagando. Nem que ficasse 15, 20 anos na cadeia. Não importava. Eu poderia dar um abraço nele depois.”

Vinicius morreu aos 20 anos e era pai de duas meninas.

*Veja o vídeo da matéria na íntegra, aqui

Por Fantástico
Fonte: g1.globo.com

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