Áudios de youtuber Klebim vazam: “Pobre tem que roubar pra se dar bem”

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Via @metropoles | Antes de ser preso em uma megaoperação desencadeada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o youtuber Kleber Rodrigues de Moraes, conhecido na internet como Klebim, conversava com pessoas próximas, por meio do WhatsApp, sobre a prática ilegal das rifas clandestinas. O influenciador chega a afirmar que, no Brasil, “pobre precisa fazer coisa errada para crescer”.

A coluna teve acesso a uma série de conversas vazadas em grupos de WhatsApp e que começaram a circular pelo Distrito Federal. Nos diálogos, o influenciador digital reclama dos tributos cobrados pela Receita Federal e que receberia “míseros” US$ 500 com visualizações no YouTube. Klebim foi preso no âmbito da operação Huracán, que desmantelou um esquema criminoso envolvendo rifas clandestinas e lavagem de dinheiro, e que rendeu milhões de reais ao influenciador.

Nos áudios, o youtuber comenta que sabia do perigo que corria em ser alvo das autoridades. “Mano, isso aí não tem jeito não véi, se denunciar e for pra Receita ou alguma coisa, vai dar merda, saca? Até mostrei isso aí hoje pra minha mãe e disse: se der merda tem que dizer a verdade ao advogado e tentar gastar o dinheiro. Porque, moço, não tem jeito de pobre ficar rico se não tiver fazendo nada de errado pro governo não, pô. Não tem jeito, quando eu soltei a rifa eu já sabia que era proibido”, disse.

Ouça conversas do youtuber:

Advogado e contador

Além dos personagens e vínculos já descobertos pela polícia no decorrer da investigação, a análise dos elementos colhidos após a prisão dos envolvidos mostrou uma engrenagem de lavagem de dinheiro altamente complexa, com atuação de um advogado e um contador, que garantiam o desbloqueio dos valores pagos pelas rifas.

Segundo as apurações da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), os valores são creditados em plataformas de pagamento, que percebem que as operações são atípicas e bloqueiam o dinheiro. Nesse momento, entram em cena um advogado e um contador, que, através de documentos de empresas de fachada e notas fiscais frias, conseguem o desbloqueio dos valores.

De acordo com as investigações, mesmo com a prisão temporária dos quatro primeiros investigados, a engrenagem das rifas ilegais no continuou funcionando. “A influência, articulação e engajamento da organização criminosa nas redes sociais e canais do YouTube, a pluralidade de sítios eletrônicos ainda em funcionamento e a complexidade das operações de lavagem, a DRF não visualizou outra medida apta a impedir que, soltos, voltassem a delinquir”, ponderou o diretor da DRF, delegado Fernando Cocito.

A operação

As apurações da Operação Huracán apontaram que o influenciador digital utilizava seus perfis nas redes sociais para promover e realizar sorteios de veículos de luxo, com sofisticados sistemas de som e customização. Klebim e outros três alvos foram presos temporariamente pelos crimes de lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar.

Apenas no Instagram, Klebim tem cinco perfis: o pessoal, com 1,7 milhão de seguidores; Estilo Dub (1,3 milhão); Guincho Dub (12,5 mil), Dub Shop (119 mil) e Dub House (332 mil). Ele ainda mantém um canal no YouTube com 1,27 milhão de inscritos. Já no TikTok, o número é de 1.207. O total de seguidores em todas as redes alcança a marca de 4,7 milhões.

Lavagem de dinheiro

De acordo com as investigações, os sorteios não são autorizados pelos órgãos competentes, e o youtuber não recolhe impostos. Klebim, de acordo com a polícia, lavava o dinheiro dos sorteios com a aquisição de veículos superesportivos, que são registrados em nome de laranjas – incluindo a mãe do influenciador – e empresas de fachada.

Além de Klebim, foram presos, acusados de integrar o esquema criminoso, Pedro Henrique Barroso Neiva, Vinícius Couto Farago e Alex Bruno da Silva Vale. Todos teriam ajudado a movimentar as rifas clandestinas e auxiliado na entrega dos veículos, por isso recebiam comissões em dinheiro pagas pelo influenciador digital.

A DRF identificou que o esquema era altamente lucrativo e apurou que os criminosos movimentaram R$ 20 milhões em apenas dois anos. Para se ter ideia do poder de compra de Klebim, a polícia apreendeu uma Lamborghini Huracán e uma Ferrari 458 Spider. Os superesportivos são avaliados em R$ 3 milhões cada.

Caminho do dinheiro

A polícia mapeou o caminho dos milhões amealhados com a venda das rifas. Os valores eram pagos por meio de plataformas digitais, como Mercado Pago e PayPal, e caíam diretamente na conta das empresas de fachada.

De acordo com o diretor da DRF, Fernando Cocito, “o conluio criminoso era descarado” e capitaneado por influenciadores digitais que arrastavam milhares de seguidores, com o discurso de legalidade e lucratividade das rifas de veículos.

“Os presos influenciaram dezenas de outros contraventores que, em toda a Região Centro-Oeste do país, passaram a disseminar perfis, canais e sítios eletrônicos de rifas ilegais e a ocultar valores oriundos da contravenção, em prejuízo da ordem econômica e do sistema financeiro”, afirmou.

Rifa clandestina

A rifa clandestina é prática ilegal, de acordo com o Ministério da Economia, órgão responsável por regrar e fiscalizar loterias e jogos de azar no país. Segundo a pasta, ainda que o dinheiro da rifa sirva para bancar projetos de veículos – ou seja, total ou parcialmente direcionado para caridade –, a prática é considerada clandestina e irregular.

A legislação permite sorteios e rifas com venda de cotas apenas para instituições filantrópicas e mediante autorização especial; nesse caso, os sorteios devem ser realizados necessariamente via Loteria Federal. O órgão informa que “a exploração de bingos, loterias e sorteios é atividade ilegal e constitui contravenção penal”, além de consistir em um “serviço público exclusivo da União”.

Por meio de nota, o ministério informa que, se houver comprovação de prejuízos a qualquer participante, poderá ser configurado ilícito penal ou, “no mínimo”, lesão ao consumidor.

O outro lado

O advogado de Klebim, Cleber Lopes, disse que “os áudios revelam exatamente que essa conduta não tem mais relevância penal, pois as pessoas participam das rifas de maneira voluntária e sem qualquer preconceito”. “Quanto à questão tributária isso será resolvido no âmbito administrativo”, afirmou.

Carlos Carone, Mirelle Pinheiro
Fonte: www.metropoles.com

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