Além de aceitar a denúncia contra Patrícia dos Santos Ferreira Cavalcanti e Paula Maroto Gasiglia Schwan, o juiz Luiz Guilherme Risso, da 2ª Vara Criminal de Vitória, suspendeu o direito de ambas ao exercício da profissão.
De acordo com a denúncia do MPES, Patrícia fingiu estar passando mal durante o julgamento de dois acusados de participação em um homicídio. Os dois réus eram representados pela advogada.
Ainda segundo o Ministério Público Estadual, Patrícia contou com a ajuda de Paula para simular um mal estar e, dessa forma, induzir o juiz ao erro, conseguindo suspender a sessão do Tribunal do Júri e dissolver o conselho de sentença.
Conforme a denúncia, Patrícia ligou para Paula enquanto os promotores do MPES faziam a sustentação oral para tentar obter a condenação dos dois réus.
Na ligação, ela teria dito para a amiga que pretendia passar mal, na tentativa de dissolver o conselho de sentença e adiar o julgamento, uma vez que, nas palavras de Patrícia, o promotor estava "arregaçando" com os clientes dela.
O Ministério Público teve acesso ao áudio da conversa entre Patrícia e Paula, por meio de interceptação telefônica realizada no âmbito da Operação Leviatã II, da Polícia Civil.
Confira o trecho da conversa transcrito na denúncia do MPES:
PATRÍCIA: “aqui, eu estou querendo passar mal no meu júri. Cara, peguei duas defesas para fazer ontem em cima da hora, mas o promotor está arregaçando com o meu cliente, e o outro também...”PAULA: “desmaia”
[...]
PATRÍCIA: “ah tá!, Tá na segunda ponte. Amiga, sobe direto para o plenário, eu vou passar mal”
PAULA: “calma!”
PATRÍCIA: “eu vou dissolver o conselho de sentença, eu estou falando sério, você não...”
PAULA: “tá, calma”
PATRÍCIA: “não, eu não estou calma não.”
PAULA: “fica calma que eu estou chegando”
Juiz foi levado ao erro, alega MPES
De acordo com a denúncia, na ata do julgamento, o juiz que presidia o júri escreveu que “foi constatado que a advogada dos réus, a qual se encontrava na sala de lanche, estava passando muito mal, chorando e com fortes dores do lado esquerdo do corpo, tendo sido recomendado por um médico com quem conversou pelo telefone que fosse a um hospital”."Diante da situação que se apresentava, o juiz, levado a erro pela ação simulada de Patrícia sobre o seu estado de saúde, na qual recebeu o auxílio e incentivo de Paula, comunicou a situação aos presentes e 'diante da impossibilidade dela continuar os trabalhos, muito menos sustentar oralmente a defesa', dissolveu o conselho de sentença, dispensou os jurados e deu por encerrada a sessão", afirma um trecho da denúncia do MPES.
Ainda segundo o Ministério Público, Patrícia chegou a incluir na ação um comprovante de comparecimento de atendimento médico, no intuito de "continuar mantendo o juiz em erro e assegurar a anulação dos atos processuais já praticados".
O MPES destaca ainda que a simulação armada por Patrícia e Paula foi primordial para que a advogada conseguisse, durante a nova sessão, remarcada para o dia 20 de novembro daquele ano, convencer o novo conselho de sentença a absolver seus clientes do crime de homicídio.
Advogada também é acusada de intermediar conversas entre traficantes
Recentemente, Patrícia se envolveu em outra polêmica. Em agosto do ano passado, ela teve a prisão decretada durante a Operação Armistício, do Ministério Público Estadual.
Foto: Montagem Folha Vitória
Patrícia cumpriu prisão domiciliar, no ano passado, após ser acusada de facilitar a comunicação entre detentos e criminosos ainda foragidos
Segundo as investigações, a advogada é suspeita de facilitar a comunicação entre presidiários líderes da organização criminosa Primeiro Comando de Vitória (PCV). A prisão domiciliar foi revogada no final do ano passado.
Além dela, outros nove advogados foram denunciados pelo MPES por facilitar a comunicação entre os líderes do PCV na cadeia com os comparsas que ainda estavam foragidos
Segundo o Ministério Público, a partir dessas trocas de mensagens, intermediadas pelos advogados, líderes da quadrilha, mesmo presos, continuavam tendo o controle do tráfico de drogas na capital capixaba e ordenavam a execução de crimes violentos, como homicídios e incêndio a ônibus.
O que dizem as defesas das advogadas e a OAB-ES
O advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de Patrícia, negou todas as acusações e afirmou que a advogada tem sido vítima de perseguição por parte do Ministério Público Estadual."Depois que a Patrícia começou a enfrentar problemas com a Justiça, na Operação Armistício, e ela conseguiu sua liberdade em dezembro do ano passado, eles começaram a perseguir a Patrícia, arrumar problema para a vida dela. E aí eles pinçaram um diálogo e não colocaram esse diálogo na íntegra dentro dos autos".
Gagno disse ainda que vai recorrer da decisão da Justiça que suspendeu os direitos de Patrícia exercer a advocacia.
Já o advogado Homero Mafra, responsável pela defesa de Paula, alega que a denúncia prima pela falta de técnica e que os promotores oferecem acusação por fato que não constitui crime.
Por sua vez, a Seccional do Espírito Santo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) informou que buscará informações sobre o caso e que tomará as providências cabíveis, observando o código de ética e disciplina e as prerrogativas da advocacia.
Por Folha Vitória
Fonte: www.folhavitoria.com.br
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