"Eu sou advogada internacional, cala a sua boca, sua bicha do c*", disse Lidiane no vídeo no qual ofende um cliente do estabelecimento.
Ela também informou no boletim de ocorrência do caso, registrado no 91º Distrito Policial (DP), Ceasa, que é "advogada". A mulher foi indiciada pela Polícia Civil por três crimes: injúria racial, lesão corporal e homofobia.
"A OAB SP esclarece que a senhora Lidiane Brandão Biezok não consta no sistema de cadastro da entidade e nem no Cadastro Nacional de Advogados (CNA), mantido pelo Conselho Federal da OAB, que exerce a função de fiel repositório do cadastro de todos os advogados do Brasil", informou nota divulgada nesta segunda-feira (23) pela OAB em São Paulo.
Segundo fontes da entidade, existe a possibilidade de que Lidiane seja aluna de direito ou já tenha se formado no curso, mas não possua o registro. Outra hipótese é que ela tenha registro de advogada em outro país.
Lidiane foi solta neste sábado (21) por decisão da Justiça, que converteu a prisão em flagrante em prisão domiciliar. Nesta segunda, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) citou o fato de Lidiane ter "problemas psiquiátricos" como uma das justificativas para que ela fique presa em casa.
'Desculpas e depressão'
Até a última atualização desta reportagem, o G1 não havia localizado Lidiane para comentar o assunto. O advogado dela também não foi encontrado.Neste domingo (23), quando falou com a reportagem, a mulher se identificou como advogada e pediu desculpas às vítimas pelo que fez. Também alegou que sofre de depressão.
“Esse problema de depressão é genético, é grave, não é uma depressãozinha, entendeu? É uma depressão para o resto da vida, é bipolaridade. É uma coisa complicada, é complexo”, disse Lidiane por telefone.
"Eu gostaria muito, muito mesmo de dar um abraço neles e falar: 'Desculpa, cara. Desculpa, perdão'", declarou Lidiane, que se mostrou arrependida, dizendo que não quis ofender e agredir ninguém.
Essa não foi a primeira vez, porém, que Lidiane foi acusada por xingar e bater em alguém. Em 2005, ela havia sido acusada de calúnia, injúria e difamação. E, em 2007, respondeu por lesão corporal.
Os dois processos, no entanto, foram suspensos na Justiça. O motivo seria o fato de a ré ter depressão, o que a impediria também de exercer a advocacia, segundo policiais ouvidos pelo G1.
Vídeos
Os vídeos gravados na sexta na padaria mostram Lidiane ofendendo e agredindo as pessoas, o que foi confirmado por funcionários ouvidos pelo G1.A confusão começou depois que clientes começaram a filmar Lidiane humilhando uma atendente da padaria. A mulher ainda atirou objetos nos funcionários e quebrou uma TV, segundo testemunhas.
Na filmagem, a mulher aparece jogando guardanapos na direção de uma funcionária, a quem ofende enquanto reclama do lanche.
“Você ainda trabalha na Dona Deôla. Você não é a rainha da Inglaterra”, diz Lidiane no vídeo. “Eu só quero uma coisa de qualidade. Isso aqui é lixo. Sabe para que você presta? Para pegar meus restos."
Em seguida, a gravação mostra o artista Kelton Campos Fausto, de 24 anos, se aproximar de Lidiane e falar: "Ela não está aqui para te servir, amore. Ela não vai te servir".
Injúria, lesão e homofobia
Luana da Silva Lopes, uma das funcionárias ofendidas, se emociona quando lembra do que Lidiane lhe disse.“Aí, ela falou assim para mim: ‘Você tem cara de ser da Zona Leste'", falou Luana, que disse que chora de ódio e raiva por ter sido humilhada.
As imagens também mostram o artista Ricardo Boni Gattai Siffert, de 24 anos, sendo xingado por Lidiane com ofensas homofóbicas. Agredido por ela, ele não reagiu.
"Sabe o que você traz? Aids. Sabe o que você traz? Câncer", disse Lidiane a Ricardo. "Eu não tô falando mais de p* nenhuma. Então aqui é uma padaria gay? Eu não tô falando p* nenhuma. Seu filho da p* [depois, Lidiane agrediu o rapaz]. Você quer me atacar, seu filho da p*?"
Kelton ainda relatou no boletim de ocorrência que Lidiane o ofendeu com palavras racistas.
"Para que essa discriminação? Para quê? A gente está trabalhando”, lamentou Osvaldo da Silva Santana, empregado da padaria, em entrevista ao G1.
“Aí, ela falou assim: 'Olhe para o seu cabelo. Você é negra. Olhe para o meu cabelo. Eu sou loira'", contou outra funcionária, Wanderleia do Nascimento.
Ainda no domingo, Lidiane chegou a afirmar ao G1 que tinha ido comer um lanche na Dona Deôla quando, segundo ela, foi filmada e agredida por clientes e maltratada por funcionários.
"Eu não tive a mínima intenção em ofender ninguém. Eu me senti acuada, me senti uma vítima ali de uma situação de que eu não tinha como sair. Fui agressiva e estúpida, mas não tenho nada contra homossexuais. Peço desculpas", falou a mulher.
Os vídeos foram analisados pelo 91º DP, que registrou o caso. A investigação será feita pelo 23º DP, em Perdizes.
O que diz a padaria
Dona Deôla se posiciona a respeito de caso de ofensas e agressões na padaria no Dia da Consciência Negra em São Paulo — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Os donos da padaria Dona Deôla disseram que orientam os funcionários não reagir a agressões nem xingamentos, principalmente dos clientes. E que, por esse motivo, a mulher não foi expulsa. Os empregados, então, chamaram a PM.
“A gente repudia qualquer atitude discriminatória aqui dentro. A gente é uma empresa que aceita diversidades em clientes e funcionários. E nunca tivemos um problema como esse”, disse Ana Carolina Mirandez, sócia da padaria.
A empresa também se posicionou nas redes sociais, classificando a atitude de Lidiane como "lamentável" e "repugnante".
"A gente ficou, a gente sentiu muito pelo ocorrido. Principalmente porque isso tudo começou agredindo os nossos funcionários, que estão aqui para trabalhar e receber todo mundo", falou a sócia da Dona Deôla.
Por Kleber Tomaz, G1 SP — São Paulo
Fonte: g1.globo.com
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