Mês do advogado e da advogada: a advocacia não é como na série 'Suits'

mes advogado advogada advocacia serie suits
Por @thallesvinicius7 | Como no último dia 11 se comemorou o Dia do Advogado e da Advogada, geralmente o mês inteiro é marcado por comemorações e programações alusivas à valorização dos advogados.

Além da comemoração necessária pelo nosso dia, pelo nosso mês, se faz muito importante a reflexão sobre os aspectos práticos de nossa profissão, quer dizer, em relação às condições de trabalho, rendimentos, como está a advocacia diante da pandemia mundial causada pelo coronavírus, enfim.

Não tenho a intenção de ser choroso, lamuriante e esquálido, de forma alguma. Mas toda vez que vejo as comemorações relativas ao 11 de agosto tenho a impressão de que vivemos uma espécie de série "Suits", em que a advocacia é romantizada, dando a impressão de que todos os profissionais são muito bem remunerados, o Judiciário é perfeito, eficiente...   

Nesse sentido, é muito pertinente a inédita pesquisa realizada pela Folha de S.Paulo que revelou o perfil econômico e de atuação da advocacia do país [1].

Dos vários dados colhidos, chamou a atenção que as três maiores áreas de atuação relatadas pelos colegas foram Família e Sucessões (42%), Trabalhista (38%) e Previdenciário (24%). Quando os entrevistados tinham de indicar apenas uma área, a principal de sua atuação, a ordem ficou da seguinte maneira: Trabalhista (15%), Família e Sucessões (11%) e Criminal (10%).

Essas informações são muito importantes porque indicam que as seccionais devem investir pesado na proteção das prerrogativas profissionais em relação a essas áreas, de modo que sejam instalados núcleos de defesa especializados em tais áreas de atuação.

Ainda sobre a pesquisa, ficou constatado que 62% dos advogados do país atuam de forma autônoma, e 62% destes relataram que durante a pandemia a sua renda diminuiu.

E esse, realmente, é um fato preocupante, considerando que 44% dos profissionais da advocacia ganham até R$ 2,5 mil, ou seja, pouco mais de dois salários mínimos.

Esses rendimentos são menores do que boa parte dos servidores públicos de nível superior em início de carreira, e, se comparados com os membros de carreira jurídica, a diferença salarial é ainda maior.

Por essa razão, se faz imprescindível uma campanha permanente de valorização da advocacia, com ações estratégicas pontuais, e não apenas no mês de agosto, ou em ano de eleições na Ordem dos Advogados. É preciso lembrar à sociedade sempre que sem advogado, não há Justiça. Sem advogado valorizado, não há dignidade.

Folha de S.Paulo também fez levantamento da visão da classe acerca de alguns dos problemas para o exercício da profissão no país [2]. Para metade da classe (51%), é regular o desempenho da Justiça brasileira, sendo que um terço (33%) a considera ruim ou péssima e apenas 15% avaliam como ótima ou boa a sua atuação (1% não opinou).

Quando se levam em conta apenas os advogados autônomos, 37% deles acreditam que a Justiça é ruim ou péssima ao cumprir o seu papel, quase o dobro de insatisfação daqueles que trabalham em escritórios de advocacia, cujo índice quanto a esse ponto é de 19%.

A dura realidade da advocacia, confirmada pela pesquisa da Folha de S.Paulo, sobretudo para os advogados e advogadas que atuam de forma autônoma, demonstra que deve haver diálogo e cobrança constantes no que diz respeito ao funcionamento do Poder Judiciário e dos demais órgãos e entidades da administração. O advogado autônomo, sem dúvidas, é o que mais sofre, e é o que mais necessita da proteção e do trabalho por parte das seccionais.

Não se pode admitir a espera por meses de uma decisão liminar ou pela realização de audiência. Não se pode admitir que alvarás demorem demasiadamente para ser expedidos. Não se pode admitir essas coisas em tempo algum, quanto mais em um contexto de pandemia mundial, em que houve a diminuição considerável dos rendimentos dos advogados e advogadas.

Concordo com Harvey Specter, personagem da série "Suits", quando ele diz que "vencedores não criam desculpas". Realmente, a advocacia, como disse Sobral Pinto, "não é profissão para covardes", de modo que devemos ser resilientes, confiantes, altivos, combativos.

Contudo, se é verdade que o advogado é indispensável à administração da Justiça, também é verdade que o sistema (isso inclui Judiciário, Ministério Público, OAB, órgãos e entidades públicas etc.) deve funcionar de modo a proporcionar condições que os advogados e advogadas bem desempenhem o seu mister.

Devemos, claro, comemorar, celebrar, o nosso mês, com orgulho. Porém, nessas datas especiais, em que ficamos em evidência, é importante apontar as dificuldades, indicar os caminhos, porque, como diz o poeta Gabriel, o Pensador: "Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta".

Viva a advocacia!

_____________________________________

[1] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/datafolha-pesquisa-inedita-revela-perfil-economico-e-de-atuacao-da-advocacia-do-pais.shtml

[2] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/07/datafolha-pesquisa-mostra-avaliacao-da-advocacia-sobre-judiciario-e-principais-leis.shtml
_____________________________________

Thalles Vinícius Sales é advogado
Fonte: Conjur

0/Comentários

Agradecemos pelo seu comentário!

Anterior Próxima