Advogada com paralisia é repreendida após questionar falta de acessibilidade em mostra em SP

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Via @jornaloglobo | A advogada Nathalia Blagevitch Fernandez, de 30 anos, que tem paralisia cerebral, afirma que foi repreendida neste sábado por uma funcionária após questionar a falta de acessibilidade da mostra de arquitetura e design de interiores Casacor, que ocorre no estádio Allianz Parque, em São Paulo. Ela alega que foi convidada a se retirar do evento. A organização nega.

Acompanhada de uma amiga, ainda no primeiro andar, Fernandez foi informada que só poderia acessar os demais pisos do evento pelos elevadores de carga em razão de uma queda de energia. Apesar de não ter sido comunicada na entrada, concordou em usar o elevador alternativo. A organização ofereceu a possibilidade de devolução do dinheiro, mas, como tinha uma viagem marcada, a advogada não desistiu.

— Não liguei para essa história do elevador de carga. Subi ao primeiro piso, mas quando cheguei ao final e pedi para me conduzirem para o próximo piso da mostra, fui informada que não poderia ir para os demais pisos, que o elevador não dava acesso e que não tinha mais como ver a mostra — contou Fernandez ao GLOBO.

Sem conseguir ver toda a exposição, a advogada preencheu seus dados para receber o dinheiro do ingresso de volta - comprado por R$ 50. Ao descer novamente pelo elevador de carga, se deparou com uma fila de pessoas, entre elas uma mulher com um carrinho de bebê e um idosa de bengala. Fernandez então as advertiu que teriam dificuldade para acessar a mostra por conta da falta de acessibilidade. Nesse instante, ela foi repreendida por uma funcionária da organização.

— A pessoa que estava organizando a fila disse: 'Cala a boca, sua mentirosa. Você não sabe o que está falando' — disse a advogada, que acionou a polícia. — Pediram para eu esperar lá fora.

De acordo com Fernandez, ela foi conduzida para fora até a chegada dos agentes. A Casacor contesta e diz que "em nenhum momento a visitante foi expulsa do local".

Após comparecerem ao local, os policiais aconselharam que ela registrasse a ocorrência pela internet, feita  na noite deste sábado. A advogada ainda vai se dirigir à Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência de São Paulo amanhã para formalizar uma denúncia.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência prevê o direito "à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas", sendo assegurada a "acessibilidade nos locais de eventos e nos serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na organização das atividades". A legislação também estabelece que praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência é crime passível de pena de reclusão de um a três anos, além de multa.

Procurada pelo GLOBO, a Casacor afirmou "toda sua visitação foi acompanhada pela organização e equipe brigadista, procedimento padrão adotado em todas as visitas de pessoas com deficiência". A mostra disse que está em contato com a advogada para "apurar a suposta má conduta por parte de membro da organização, para que as medidas administrativas cabíveis sejam tomadas".

A Casacor informou que "o prédio onde ocorre a mostra passou por atividades de manutenção preventiva programada nas subestações" mas "houve uma situação de força maior e o fornecimento de energia teve de ser interrompido por algumas horas, impactando diretamente nos elevadores que dão acesso à mostra e a todos os andares do estacionamento". Disse ainda que o procedimento adotado foi "avisar a todos os visitantes sobre o problema, oferecendo ressarcimento ou remarcação da visita em outras datas e horários".

"Para acomodar e atender aos visitantes que não poderiam retornar e gostariam de seguir com a visita mesmo com a limitação do uso de elevadores de acesso, a organização ofereceu, em caráter de exceção, acesso pelo elevador de carga, único equipamento não afetado pela queda de energia", disse em nota.

O Allianz Parque informou que os esclarecimentos serão prestados pela Casacor.

Leia a íntegra da nota:

A CASACOR São Paulo reforça que repudia qualquer ato discriminatório e que ministra treinamentos aos funcionários, bem como aos seus terceirizados, enfatizando sempre os protocolos internos de conduta e responsabilidade no trato com seus visitantes.

Com relação ao episódio relatado pela visitante Nathália Blagevitch Fernandez durante sua visita neste sábado, dia 23 de outubro, a CASACOR informa que o prédio onde ocorre a mostra, no Allianz Parque, passou por atividades de manutenção preventiva programada nas subestações, para garantir a máxima qualidade e segurança no fornecimento de energia. No decorrer das atividades da mostra, houve uma situação de força maior e o fornecimento de energia teve de ser interrompido por algumas horas, impactando diretamente nos elevadores que dão acesso à mostra e a todos os andares do estacionamento.

O procedimento adotado pela CASACOR foi o de avisar a todos os visitantes sobre o problema, oferecendo ressarcimento ou remarcação da visita em outras datas e horários.  Para acomodar e atender aos visitantes que não poderiam retornar e gostariam de seguir com a visita mesmo com a limitação do uso de elevadores de acesso, a organização ofereceu, em caráter de exceção, acesso pelo elevador de carga, único equipamento não afetado pela queda de energia.

Os visitantes que optaram por seguir com a visita, foram encaminhados para o elevador e monitorados pelo chefe de segurança da mostra até o rooftop (sétimo andar, local onde tem início o circuito interno de CASACOR). O acesso ao sexto andar (onde continua e se encerra o passeio) seria feito pelas escadas, que fazem parte do roteiro e por onde os visitantes poderiam seguir com a visitação completa.

No caso de Nathália, no entanto, no qual o uso do elevador era essencial para acesso, o mesmo não foi possível, nem pelo elevador de carga, já que o caminho era alternativo e não comportava corretamente a scooter elétrica de propriedade da visitante. A opção de carregá-la no colo não foi considerada por fatores de segurança.

A partir desse momento, a equipe CASACOR reforçou com a visitante que ela poderia solicitar ressarcimento ou reagendar a visita. Ao chegar no piso térreo, Nathália se dirigiu até a bilheteria, como indicado pela equipe, para explicação do procedimento de estorno do valor de ingresso pela operadora de cartão de crédito. Nesse momento, a visitante comunica que a polícia seria acionada por conta da questão de acessibilidade.

A equipe CASACOR acompanhou Nathália durante a chamada da Polícia Militar e solicitou que ela aguardasse a chegada da viatura em local de sua escolha. A visitante, após a ligação, decidiu ir embora, sendo acompanhada pela equipe brigadista durante todo o trajeto até a saída da mostra, feita por um túnel (instalação artística). A equipe se ofereceu para acompanhá-la até seu carro (estacionado em shopping vizinho), o que a visitante recusou.

A CASACOR reforça que em nenhum momento a visitante foi expulsa do local, como afirmado em reportagem sobre o caso, e que toda sua visitação foi acompanhada pela organização e equipe brigadista, procedimento padrão adotado em todas as visitas de pessoas com deficiência.

A mostra informa, ainda, que está em contato direto com Nathália para apurar a suposta má conduta por parte de membro da organização, para que as medidas administrativas cabíveis sejam tomadas. Toda a visita de Nathália foi registrada pelas câmeras de segurança do local e estão disponíveis para apuração total do caso.

Com o funcionamento normal dos elevadores, a CASACOR São Paulo é uma mostra 100% acessível, procedimento adotado desde 2016. O evento é totalmente preparado para receptivo não apenas de pessoas com deficiência, mas de idosos e famílias com crianças pequenas, que acessem os ambientes com carrinhos. A mostra conta com rampas de acesso em todos os ambientes; disponibiliza na recepção duas motos elétricas e 2 cadeiras de rodas para os visitantes; 3 elevadores exclusivos para acesso à mostra; 3 elevadores exclusivos para acesso a estacionamento, 1 elevador para PcD no sexto andar, para acesso aos pisos do circuito. Há ainda quatro banheiros, todos unissex e com cabine exclusiva e equipada para PcD, distribuídos em todos os andares do circuito. Toda a equipe CASACOR é treinada e orientada para atender a qualquer necessidade dos visitantes, em todas as situações, prezando sempre pelos pilares de sustentabilidade e acessibilidade e inclusão.

Rodrigo Castro
Fonte: O Globo

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