O júri e a advocacia que escuta: diálogos que salvam a vida do réu

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Por @mmennaadv | A gente vive de dobras, momentos que marcam e vincam a vida. Dobras boas e ruins, que demarcam novos mundos, jogando o que até então era inalienável para o outro lado da calçada, alterando a ordem das coisas que pareciam tão acomodadas e tão partes de nós.

É. Até o derradeiro sono vai ser assim. A gente correndo atrás de negociar com a vida que, folgada, continuará a vir sem pedir licença.

Aliás, com o tempo aprendemos que parar de brigar com o lógico é uma escolha esperta. Passamos a buscar dialogar em busca de alternativas, se inteligente formos.

Quantas ideias boas já não vieram em um café no fim da tarde, tipo aquele café bom com aquela pessoa leve que lhe veio à memória.

Nada, absolutamente nada nem ninguém tem o monopólio da verdade.

Por isso, para além de falar sobre os fatos envolvendo o processo, é preciso dialogar sobre a vida do cliente.

Para ilustrar, deixo o registro de um trecho de uma conversa real:

– É isso, Doutor. Não tenho mais nada pra falar, não.

– E esses 32 anos de vida até aqui?

– Por que tu tens essa mania de falar do passado, da infância?

– Porque nós nunca vamos compreender um problema de adulto se não localizarmos o trauma infantil que ele repete…

– Queria falar do meu pai…

Muitas vezes nos deparamos com situações em que a técnica jurídica, por si só, é insuficiente para caracterizar o decote de uma qualificadora, o reconhecimento de uma privilegiadora ou até mesmo de uma legítima defesa.

É aí que entra a história de vida da pessoa.

Tem certas coisas na gente que a gente lembra e vem o gosto na boca. E só é possível mostrar esse gosto ao conselho de sentença se fizermos os jurados experimentarem.

Porque embora tenham ido com o tempo, ficaram em cicatrizes na alma, no corpo, na memória. Marcas que precisamos fazer questão de olhar, passar o dedo, lembrar o momento do corte. Como uma cicatriz no pé de um menino lembra a alegria do futebol na infância. Como uma marquinha na testa lembra a queda naquele voo livre.

O Arlequim é um personagem que vai recolhendo retalhos dos lugares por onde passa e os costura em seu manto. Seu manto é sua história. Cada retalho, um momento. Somos Arlequins. Retalhos de memórias nos constituem.

Precisamos fazer com que os jurados sejam os Arlequins daquele que está sentado no banco dos Réus. Daquele que eles mesmos irão julgar.

Sejamos Arlequins e façamos com que o Conselho de Sentença também seja.
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Por Matheus Menna
Fonte: Canal Ciências Criminais

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