No espaço de um ano, a compulsão por apostas o levou à depressão, às perdas e ao suicídio. Em entrevista ao UOL, publicada nesta quinta-feira (28), a viúva de Vinícius, Tainá Nalvas Marinho, contou que o marido largou dois empregos para se dedicar aos jogos, encarando aquilo como investimento. "No começo, ganhava R$ 35 mil por mês", disse a dona de casa. Os dois tiveram três filhos juntos e moravam em Marília, no interior de São Paulo.
Segundo Tainá, o hábito era visto como uma forma de ganhar dinheiro. "Era isso o que ele falava, e enquanto ganhava, a gente ia levando", relatou. Contudo, o jovem começou a perder muito. Para bancar a compulsão, ele pegava dinheiro com conhecidos para "investir" em apostas. Meses depois, as dívidas somavam R$ 90 mil, e o casal precisou vender a casa.
Depois disso, Tainá contou que passou a estabelecer regras: se ele perdesse, não jogava mais naquele dia. O histórico das apostas também eram compartilhados. "Agora sei que ele pode ter apagado esse histórico, pode ter dito uma coisa e feito outra. De qualquer maneira, naquela época, parecia que tudo estava caminhando certinho", relembrou.
Vinícius chegou a procurar ajuda psicológica, mas ao se deparar com a orientação de tomar remédios, disse aos familiares que iria se controlar, contou a dona de casa. Por um tempo, deu certo. No entanto, segundo Tainá, o "gatilho" veio um dia antes da morte, quando o jovem viu um conhecido apostar R$ 100 e ganhar R$ 3 mil, durante um churrasco entre amigos.
A viúva disse que, no dia seguinte, Vinícius se trancou no banheiro do trabalho e fez 13 apostas de R$ 1 mil, uma seguida da outra, após conseguir R$ 10 mil emprestados e usar R$ 3 mil próprios. Ele acabou perdendo tudo. À tarde, decidiu almoçar na casa da mãe e em seguida, se suicidou no quintal da residência dela. Tainá só soube da morte quando o credor ligou cobrando. "Quem vai pagar?", questionou.
Vinícius Ferreira era pai de três filhos com Tainá Nalvas Marinho. (Foto: Reprodução/UOL)
Processo contra Bet365
Depois do falecimento, a família decidiu processar a Bet365 por danos morais e materiais. Eles pedem R$ 3,8 milhões. "Não há tabela de valor para o luto. Mas indicamos essa quantia pelo fato de a Bet365 ser uma empresa bilionária e ter causado o dano máximo, a morte. Nossa esperança é ganhar este caso e mostrar a outras famílias que podem fazer o mesmo", declarou Luiz Carlos da Silva, advogado que representa a viúva e os pais de Vinícius.
O pai do jovem, o missionário Siberlei Ferreira, criticou a permissividade do governo ao legalizar as bets no Brasil, sem um plano de contenção de danos financeiros e mentais. "O governo não está preocupado se alguém da sua família vai perder a vida, a questão é de quanto ele vai ganhar em cima disso. Quantos Vinícius serão perdidos, quantas famílias vão continuar sendo destruídas por causa dessa ganância?", desabafou. "Quantos morrerão até mudar a lei das bets?", concluiu.
Família pede R$ 3,8 milhões por danos morais e materiais. (Foto: Reprodução/UOL)
A Bet365 ainda não se pronunciou sobre o caso. Segundo o estudo "Suicídio entre indivíduos com problemas de jogo: uma revisão meta-analítica da literatura", publicado pela Associação Americana de Psicologia, em janeiro deste ano, para cada três pessoas com problemas em jogos, uma tem ideações suicidas.
Entre quem não tem compulsão e quem não joga, o índice é de uma pessoa para cada oito. O estudo também apontou que 13,2% de jogadores patológicos já tentar tirar a própria vida, contra 2,81% da população em geral.
IMPORTANTE: Se você ou alguém que você conhece está passando por dificuldades emocionais ou considerando o suicídio, ligue para o "Centro de Valorização da Vida" pelo número 188. O CVV realiza apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. Para mais informações, clique aqui.
Assista à reportagem completa:
Por Sally Borges
Fonte: @hugogloss
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