O que aconteceu
O advogado representava a chefia da OAB em reunião. Márcio de Souza Oliveira estava na mesa representando o presidente da OAB-DF e chamou as advogadas presentes de "meninas". O episódio aconteceu no fim de agosto, durante uma audiência da OAB Paranoá/Itapoã, marcada para discutir como seria a divisão dessa subseção, que atende regiões do entorno do Distrito Federal.
A diretora da Mulher da subseção usou seu tempo para condenar a fala de Oliveira. A advogada Viviane Magalhães classificou o uso do termo como "deselegante", por desmerecer o trabalho das eleitas para a diretoria da subseção. "A maioria eleita são mulheres, não são meninas", pontuou.
O advogado afirmou que "foi educado" e "carinhoso". Ele disse que "a velhice está na cabeça das pessoas" e que "todas as pessoas deveriam ser tratadas como eternamente crianças". "Nunca vou tratar alguém de senhora", disse. Exaltado, ele bateu na mesa e apontou o dedo para Viviane e outras pessoas no evento e voltou a dizer que "não abria mão de chamar as mulheres de meninas". "A senhora me respeite."
Depois do bate-boca, ele foi embora no meio da reunião. Após a fala provocar reações na plateia, com muitos apoios mencionando que ele desrespeitava a colega, ele deixou o evento. Toda a situação foi filmada.
Diretora disse que sentiu a necessidade de se posicionar após a fala. Segundo Viviane contou ao UOL, ninguém esperava a reação que ele teve. "Nomeou a diretoria pelo nome e apenas as mulheres como 'meninas'. Não há nada de mau, como falei para ele, chamar de meninas, mas nossa diretoria não é composta por meninas, só por mulheres. Mulheres advogadas, mulheres eleitas. Não são meninas. Achei deselegante", reiterou ela. "Como ele não quer ficar para se manifestar, tem todo o direito de se retirar, né? E prosseguimos com a audiência", finalizou Viviane, sendo aplaudida.
OAB diz que apura fatos. Após ser procurada pela reportagem, a OAB/DF informou que "apura os fatos ocorridos no Paranoá em procedimento próprio, que corre em sigilo, aplicando-se as regras de compliance e de boa governança". "Reforçamos que a igualdade de gênero e o respeito às advogadas são valores desta gestão, que continuará atuando de forma firme para garantir um ambiente sempre equilibrado e inclusivo."
Advogado saiu de comissão onde atuava. Segundo a OAB, o advogado afastou-se espontaneamente de uma comissão e responde ao procedimento na área de compliance.
Representante da OAB não comenta caso. Procurado pelo UOL, ele disse que iria se manifestar apenas "após a ampla apuração dos fatos".
Viviane se disse "decepcionada" com as respostas ao ocorrido. Ela afirma que recebeu telefonemas da conselheira da Mulher da OAB-DF e conversou com o presidente da seccional, Paulo Maurício, dias depois. Ele disse que tomaria providências.
Advogada queria punição e pedido de desculpas. Ela disse que esperava que a OAB-DF soltasse alguma nota em repúdio ao ocorrido, o que não aconteceu. Também imaginou que o caso fosse para o Tribunal de Ética da Ordem, e não no compliance, que não tem poder de punir ninguém e pode apenas emitir recomendações. Ainda lamentou o fato de nenhuma mulher que compõe a direção da seccional ter manifestado apoio público a ela.
Diante do ocorrido, a OAB Paranoá/Itapoã entrou com uma reclamação na OAB-DF e no conselho federal da Ordem. Segundo ela, até o momento nenhuma medida foi tomada pelos órgãos.
"É uma gestão tão progressista, mas, quando acontece isso com uma mulher, o mínimo que acho, que é um pedido de desculpa, eles não entregam. Falam que vão apurar via compliance.*Viviane Magalhães, advogada que foi criticada durante audiência
Mateus Coutinho
Fonte: @estadao

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