A advogada Thayrane da Silva Apóstolo Evangelista, 30 anos, denunciou à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) a colega de profissão Isabela Bueno de Sousa, por injúria racial. Isabela negou que tenha sido racista e alegou perseguição política (leia nota abaixo).
Na última terça-feira (12/1), Thayrane comunicou à autoridade policial sobre mensagens que seriam de cunho racista, enviadas por Isabela em um grupo de WhatsApp chamado Liga da Justiça, composto por mais de 200 advogados.
Em nota, as comissões de igualdade racial disseram: “O que deve nos preocupar, constantemente, é o silêncio dos bons”. “Parafraseando o dr. Martin Luther King, esclarecemos que não há espaço para silêncio em nossa casa, vez que a conivência não se perpetuará ante casos grosseiros de desrespeito à colega dra. Thayrane ou a qualquer outra advogada ou advogado.”
O texto pontuou que “maldosamente, atribui-se aos negros a imagem animalesca dos símios (primatas) a fim de promover a sua desumanização”. “É uma forma sociopolítica do racismo, no intuito de separar, excluir ou diferenciar pessoas negras, com finalidade de impedir ou dificultar o reconhecimento e o exercício de direitos, em bases de igualdade com a sociedade em geral”, assinalou.
A nota destacou que “não se pode aceitar que quem pratica racismo o faz de forma inconsciente, sobretudo, por ser um comportamento socialmente reprovável, de caráter amplo contra todo o coletivo negro, pois a atribuição da imagem de ‘macaco’ aos negros é praxe histórica dos ataques racistas”.
O secretário-geral da Comissão de Igualdade Racial da OAB-DF, Beethoven Nascimento de Andrade, e o presidente da Comissão de Igualdade Racial da Subseção de Águas Claras, Hector Luis Cordeiro Vieira, assinam a nota em nome dos coletivos.
Confira, na íntegra, a nota das comissões, aqui
Bananas
Na conversa ocorrida na noite de segunda-feira (11/1), Isabela enviou emoji de bananas após a colega mandar uma figurinha. Depois de Thayrane dizer não ter entendido, Isabela escreveu: “Reserva de pensamento. Pensei alto, sorry (desculpa, em inglês)”.Logo em seguida, Thayrane enviou informações sobre o delito de injúria racial. Isabela, então, respondeu: “Banana é a fruta que mais gosto, mas ela representa pessoas sem personalidade. Acho fácil de entender”.
Thayrane acredita que a atitude foi racista. “Emoji de banana é em referência a macaco. Diversos advogados ficaram indignados e saíram do grupo por causa disso”, disse à coluna Grande Angular.
“Fiz o boletim de ocorrência, e estou tomando providências cabíveis. Já passei várias vezes por situações parecidas, mas era algo velado, de pessoas que não têm conhecimento sobre o que é crime ou não – o racismo estrutural em si. Nunca foi tão explícito comigo”, declarou.
O outro lado
À coluna, Isabela negou que tenha sido racista. Segundo ela, o emoji de banana foi utilizado com outra finalidade: “Fui procurar uma figura que simbolizasse uma pessoa discípula, mole, que se deixa levar pelas outras e, quando vi a banana, achei que representaria isso”.Disse, ainda, que a denúncia contra ela é fruto de perseguição política devido a ações que faz “em desfavor” da atual gestão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Isabela afirmou que a advogada e conselheira federal da OAB Daniela Teixeira, dona do escritório onde Thayrane trabalha, a escalou para “que fosse aos embates comigo a fim de me desqualificar”.
“Daniela e o grupo que participa da gestão me veem como adversária política devido a diversas ações que fiz e sabem que farei em desfavor da gestão, como, por exemplo, a ação do quinto constitucional e meu auxílio político para os funcionários da OAB-DF, indevidamente demitidos”, pontuou.
A advogada acrescentou que viu Thayrane “umas três vezes” em sua vida e nunca se atentou à cor da pele dela. “Quando debato com qualquer pessoa não reparo na cor de sua pele, pois, para mim, a cor da pele não tem qualquer importância. Não houve cunho racista. Ressalto que minha filha também é bem morena e o pai de minha filha também é bem moreno”, destacou.
Confira, na íntegra, a nota de Isabela, aqui
Citada por Isabela como autora da “perseguição”, Daniela Teixeira enviou à coluna uma nota. “Todos no mundo sabem o significado que se quer dar quando se oferecem bananas a uma pessoa negra. É a tentativa de humilhá-la, comparando-a a um macaco. É uma postura grosseira, condenável e combatida na vida social, na política, nos estádios de futebol e em todo o mundo civilizado”, pontuou.
Daniela citou que Isabela deixou claro ser crítica das atuais gestões da OAB distrital e da federal, e disse que ela “tem todo direito de expressar suas opiniões, certas ou erradas”. “Mas para debater sobre assuntos da OAB deveria trazer argumentos jurídicos e não oferecer bananas publicamente a uma jovem advogada”, ponderou.
Leia, na íntegra, o posicionamento de Daniela Teixeira, aqui
Isadora Teixeira
Fonte: www.metropoles.com
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