Para realizar o procedimento, a vítima, uma adolescente negra e filha de uma empregada doméstica, precisou enfrentar uma viagem “às escondidas” de sete horas de sua cidade natal até a capital, Belo Horizonte, onde recorreu ao MP. A jovem encarava uma série de medos, incluindo o de algum grupo anti-aborto tentar impedir que ela interrompesse a gravidez – o que aconteceu com outra criança de 10 anos, do Espírito Santo, que era abusada pelo tio desde os 6 anos.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem da Agência Pública, a juíza que analisou seu caso e negou o aborto legal teria compartilhado a sentença em
um grupo de WhatsApp. Assim, a notícia teria se espalhado rapidamente na pequena cidade em que a menina vive, e ela começou a ser pressionada por assistentes sociais para fazer o pré-natal.
A jovem também não teve outros direitos garantidos. Após ser violada pelo namorado de 21 anos, no dia seguinte, a menina contou para a mãe sobre a
violência sofrida e foi levada para o hospital da cidade. A adolescente foi desacreditada pelas médicas, que colocaram no registro que “a menina apresenta fala incoerente e face risonha”.
“Depois de avaliar meu corpo, elas pegaram e disseram que não tinha sido isso [estupro], porque no corpo não tinha marca nenhuma de violência”, contou a menina de 14 anos, que não recebeu o contraceptivo de emergência, medicações para evitar doenças sexualmente
transmissíveis nem acompanhamento psicológico – algumas das recomendações da Norma Técnica do Ministério da Saúde.
Gabriela Junqueira
Fonte: capricho.abril.com.br
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