Boate Kiss: Promotor relê trechos de livro rasgado por advogado de defesa

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Via @gzhdigital | O 10º e último dia do júri dos quatro acusados pelas 242 mortes no incêndio da boate Kiss serve também para um acerto de contas entre acusação e defesa. A parte da manhã desta sexta-feira (10) está reservada para o Ministério Público tentar provar que os réus tinham plena noção do risco da boate se incendiar, o que aconteceu em 27 de janeiro de 2013, ocasionando a tragédia.

O promotor de Justiça David Medina enfileirou argumentos para tentar mostrar que os réus assumiram riscos ao negligenciar em obras e no uso de artefatos pirotécnicos na danceteria.

— Vai dizer que um homem que usava fogo em suas apresentações, como o Kiko (Elissandro Spohr, sócio da Kiss), não sabia que tinha fogo dentro da sua própria boate? Estão brincando com a nossa inteligência — exclamou Medina.

O Ministério Público (MP) mostrou também vídeo do depoimento de uma das vítimas sobreviventes da boate Kiss, no qual ele narra seu coma e as dores com as queimaduras derivadas do incêndio. Fez isso em contraponto a uma carta psicografada apresentada pela defensora de um dos réus, que teria sido escrita por um dos jovens mortos na tragédia, dizendo que tudo foi um acidente.

O promotor contestou:

— Isso não é um acidente. Isso é sofrimento (apontando para o jovem queimado, no vídeo) Quem causou isso está aqui no júri. Mas está havendo uma transferência injusta de responsabilidade para o poder público.

Medina também reclamou da postura de alguns dos advogados dos acusados:

— Pode tudo a defesa. Já as famílias das vítimas não puderam se manifestar no julgamento, diferentemente dos réus.

O promotor também insinuou que a defesa dos réus fez "teatro" ao longo do julgamento, para ganhar mídia. Ele lembrou que o advogado Jean Severo rasgou página de um livro de autoria de Medina. A parte rasgada era a que trata de dolo eventual. Isso aconteceu na noite de quinta-feira (9). Jean também jogou alguns papéis no chão, ao se emocionar na defesa do cliente.

Medina não esqueceu o episódio e aproveitou parte do tempo da acusação para reler a página que foi rasgada no dia anterior pelo defensor do réu.

A promotora Lucia Helena Callegari, também na acusação, salientou que a boate estaria tão lotada que as pessoas não teriam como caminhar. Isso porque outras danceterias da cidade estavam fechadas naquela noite e a Kiss promovia festas para universitários em Santa Maria, conhecida como “cidade universitária”.

— Quem deixou tanta gente entrar? Isso se chama ganância.

Promotora Lúcia Helena Callegari
Lauro Alves / Agencia RBS

A promotora mostrou ainda espuma comprada em uma loja de colchões, em julho de 2012. E leu especificações para que fossem mantidas longe de calor e chamas.

— Se comprassem a espuma certa, antichamas e para tratamento acústico, não teria problema. Aquela que eles colocaram não atende às normas, é altamente inflamável. Seus componentes são perigosíssimos. Eles tinham domínio dessa situação — acusou Lúcia.

A promotora mostrou também nota fiscal da compra dos artefatos pirotécnicos, dizendo que os integrantes da banda sabiam que eram para uso externo, não dentro na boate:

— Usavam luva, que era para ninguém se queimar. Se era para não se queimar, é porque incendiava. Assumiram o risco, sim! — concluiu.

Humberto Trezzi
Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br

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