‘Não é porque sou juíza do STF que não sofro discriminação’, diz Cármen Lúcia

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Via @estadao | A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu a ampliação da participação feminina na política e na magistratura.

“Eu quero ter a esperança de que cada mulher no mundo possa ser o que ela quiser, para ela cumprir sua vocação e ajudar a humanidade”, afirmou. Ela esteve no Senado Federal para participar de um seminário sobre a presença das mulheres nos espaços de poder.

Cármen Lúcia foi a segunda mulher a ocupar uma cadeira no STF, cargo mais alto na hierarquia do Judiciário brasileiro, e chegou a presidir o tribunal entre 2016 e 2018. Em eventos recentes, tem feito uma defesa intransigente da igualdade de gênero.

“Quando eu falo que eu sofro discriminação, e não é porque eu sou juíza do Supremo Tribunal Federal que não sofro, sofro. E eu estou usando o verbo que eu quero: é um sofrimento alguém te olhar como se você fosse menos, porque eu sou o que eu sou. Eu sou mulher, adoro ser mulher. Não tem sentido que eu não possa ser tratada realmente em condições de igualdade”, disse.

No seminário de hoje, a ministra voltou a defender que as mulheres assumam cargos estratégicos ao invés de terceirizar a representação feminina.

“Eu não quero nada sobre mim que não seja por mim mesma. Eu sei falar melhor de mim do que qualquer outra pessoa. Eu tenho voz e eu quero ter vez porque a minha voz vai refletir a minha alma e o meu sentido”, disse.

A ministra chamou o preconceito de gênero de “bárbarie contra a civilização” e disse que o machismo é uma construção social e cultural.

“A sociedade não caiu do céu, não nasceu no inferno. A sociedade é o que nós construímos e foi construída uma sociedade na qual era para as mulheres acreditarem na história da gata borralheira: a mulher tem um lugar e o lugar é o borralho. ‘Fique quieta lá que um dia aparece um príncipe encantado que vai te fazer transformar em princesa’. Isso é mentira”, afirmou

Em sua fala, Cármen Lúcia chamou atenção para a sub-representatividade feminina não só no Executivo e no Legislativo, mas também no Judiciário, sobretudo em relação a mulheres negras.

“Nós temos a maioria da população feminina no Brasil, temos uma Constituição que garante igualdade, e no entanto nós não temos a efetividade igual dos direitos”, disse. “Mesmo entre nós mulheres, há grandes diferenças. Se eu pegar o contingente de mulheres que há hoje compondo a magistratura brasileira, somente 7% são negras, o que significa dizer que nosso descompasso histórico é enorme”, destacou.

A ministra ainda afirmou que a igualdade entre homens e mulheres está prevista na Constituição e que o texto constitucional “não é sugestão, não é proposta, não é aviso, é lei”.

“E é a lei que fundamenta o País e há de der cumprida integralmente”, defendeu. “É um descalabro que cheguemos a 2022 e o marco civilizatório da humanidade não tenha superado isso: todo ser humano é igual ao outro.”

Fonte: Estadão

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