Familiares dos condenados por assassinatos brutais alegam que os filhos carregam um peso insuportável ao terem seus nomes associados aos pais.
Um dos casos mais recentes envolve o filho de Cristian Cravinhos, que conseguiu no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o direito de retirar o nome do pai de seus documentos. Cristian foi condenado por sua participação no assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, em 2002.
O jovem relatou que, mesmo não tendo o sobrenome Cravinhos, ainda sofria com o peso de ver o nome completo do pai nos campos de filiação, gerando bullying e constrangimentos em ambientes escolares e profissionais.
A relatora do processo, ministra Nancy Andrighi, apontou que o abandono afetivo e material justifica a exclusão da filiação. “O genitor não apenas rompeu com a mãe, mas também abandonou completamente o filho”, explica. Segundo ela, a ausência de afeto, vínculo biológico ou erros no registro são fundamentos aceitos para esse tipo de medida.
Avós paternos pedem na Justiça a retirada do nome de Elize Matsunaga da certidão de nascimento da menina – Foto: Reprodução/ND
Justiça analisa pedido para remover maternidade de Elize Matsunaga de certidão da filha
No caso de Elize Matsunaga, a situação é ainda mais delicada. Condenada a 16 anos de prisão pelo assassinato e esquartejamento do marido, Marcos Matsunaga, em 2012, ela é alvo de uma ação movida pelos avós paternos da filha — Mitsuo e Misako Matsunaga — para retirar judicialmente seu nome da certidão de nascimento da menina, hoje com 14 anos.
A defesa de Elize, conduzida pela advogada Juliana Fincatti Santoro, se posiciona contra a ação. “Minha cliente quer exercer o direito de ser mãe. Ela não cometeu nenhum crime contra a filha, sempre demonstrou afeto e tem plenas condições de cuidar da menina”, afirmou.
Curiosamente, Elize também buscou apagar seu passado ao remover o sobrenome Matsunaga de seus documentos, passando a se apresentar como Elize Araújo Giacomini.
Ana Carolina Jatobá retirou o sobrenome de Alexandre Nardoni; seus filhos usam o sobrenome do atual marido – Foto: Reprodução/ND
Além da filha de Elize Matsunaga, Ana Carolina Jatobá desvinculou nome de Alexandre Nardoni de seus filhos
A tentativa de romper vínculos com o passado criminoso tem se tornado recorrente entre familiares de condenados. Além da filha de Elize Matsunaga, Anna Carolina Jatobá, por exemplo, condenada pela morte da enteada Isabella Nardoni, retirou o sobrenome do ex-marido, Alexandre Nardoni, e retomou seu nome de solteira.
Seus filhos, por sua vez, adotaram apenas os sobrenomes Alves, do atual marido, e Jatobá, seu nome de solteira. A Lei nº 14.382/2022 facilitou o processo de mudança de nome no cartório, permitindo a qualquer adulto alterar o prenome uma vez sem necessidade de justificativa, enquanto o sobrenome pode ser ajustado com base legal.
No entanto, a exclusão do nome dos pais segue exigindo trâmite judicial. Até mesmo os condenados pelos famosos crimes brutais que chocaram o Brasil buscam se dissociar da própria identidade criminal.
Filho de Cristian Cravinhos conseguiu na Justiça desvincular o nome do pai de seu registro civil – Foto: Divulgação/R7/ND
Filho de Cristian Cravinhos conseguiu tirar o nome do pai do registro civil na Justiça
O filho de Cristian Cravinhos, que tinha três anos na época do crime, conseguiu na Justiça do Paraná a exclusão do nome do pai de sua certidão de nascimento. Ele alegava abandono e constrangimento devido ao histórico criminal do genitor. Este foi o primeiro caso de desvínculo paterno, o que incentivou a família da filha de Elize Matsunaga a tentar o recurso.
A relatora do caso, ministra Nancy Andrighi, destacou o impacto psicológico sofrido pelo filho de Cravinhos. “Constatada a inexistência do vínculo do pai registral, verifica-se a possibilidade de quebra da paternidade ante ao descumprimento do princípio”, disse a relatora.
Ela ainda complementou: “Deixei de mencionar aqui os fatos de bullying que ele passou na escola e quantas escolas ele teve que mudar depois que o fato aconteceu. Horrível”.
Suzane von Richthofen, por sua vez, trocou de nome e passou a se chamar Suzane Louise Magnani Muniz, adotando os nomes da avó materna e do marido. Daniel Cravinhos também modificou seu registro duas vezes: a primeira com o sobrenome da ex-mulher e a segunda com o da atual esposa.
Diferente do irmão, Cristian Cravinhos mantém sua identidade se mantendo firme quanto seu nome: “Caí com esse nome, vou me levantar com ele”, diz.
Deny Campos
Fonte: @ndmais
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