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Hora do adeus: Depois de 12 anos no tribunal, Barroso anuncia saída antecipada do Supremo

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Via @consultor_juridico | O ministro Luís Roberto Barroso anunciou nesta quinta-feira (9/10) sua saída do Supremo Tribunal Federal. A sessão desta tarde do Plenário foi a última do magistrado na corte, à qual ele chegou em junho de 2013.

Barroso negou que a despedida antecipada do tribunal (ele poderia ficar até 2033, quando completará 75 anos) tenha sido motivada pela crescente tensão criada nos Estados Unidos por partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que resultou em pressões e sanções contra ministros do Supremo — Barroso está entre os que tiveram o visto de entrada nos EUA suspenso.

“Não tem nenhuma relação com os Estados Unidos, eu espero que isso se resolva, só cumprimos bem o nosso dever”, afirmou ele em conversa com jornalistas após a sessão. “Foi um movimento errado (dos americanos), baseado em narrativa falsa que temos que desfazer”, acrescentou. Segundo o ministro, se a situação for consertada “vou ficar muito feliz, se não a vida segue”.

De acordo com Barroso, a decisão foi motivada pela “sensação de que cumpri o ciclo da minha vida e achei que tinha feito o que podia fazer e abrir espaço para pessoas novas”. Ele contou ter esperado um momento institucionalmente mais calmo para deixar a corte, por isso aguardou o fim do julgamento de Bolsonaro pela 1ª Seção, a fim de dar apoio aos colegas.

O magistrado disse não ter planos para o futuro, além dos compromissos já assumidos para dar aulas na Alemanha e na França, e revelou que vai continuar se dividindo entre Brasília e Rio de Janeiro. Além disso, ele negou ter intenções de ocupar um cargo no Poder Executivo, como o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça.

No Plenário

No discurso de despedida, feito ao fim da sessão do Plenário do Supremo, Barroso se emocionou muito e teve dificuldades para falar. Ele destacou os 12 anos de trabalho intenso no tribunal e lamentou que sua atuação no Supremo tenha resultado em ônus “sobre pessoas queridas”.

“Gostaria de me despedir com uma breve reflexão sobre a vida, sobre o Brasil e sobre o STF. Apesar da agressividade e intolerância que se vê aqui e acolá, reafirmo minha fé nas pessoas, no bem, na boa-fé, na boa vontade e gentileza sempre que possível.”

“Fora dessa bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade e reitero que integridade e empatia vêm antes da ideologia e escolhas políticas, o radicalismo é inimigo da verdade. A gente, na vida, deve ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões. Apesar das dificuldades que ainda não superamos, reafirmo minha fé no Brasil, o país mais lindo do mundo”, continuou ele.

Barroso negou ter arrependimentos ou medos. “Não falo por arrogância, mas pela minha crença mais profunda de que o universo protege quem se move por bons propósitos.”

O ministro Edson Fachin, atual presidente da corte, disse que Barroso “nos lembrou que ninguém na vida é bom sozinho, a diferença nos completa, isso permeia toda a sua atuação e nos ensina a nunca formar opinião sem antes ouvir os dois lados”. O ministro Gilmar Mendes, decano do STF, também dedicou palavras de carinho ao colega.

Conversa com Lula

No pronunciamento feito no Plenário, Barroso revelou ter dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) há dois anos que poderia sair da corte antes do tempo de aposentadoria compulsória por idade.

Ao conversar com a imprensa, depois da sessão, o magistrado contou ter estado com Lula no último sábado (4/10) e que o chamou para discutir um assunto importante. A conversa, porém, não aconteceu por problemas de agenda do presidente da República.

Quando lhe perguntaram se ele gostaria que uma mulher o substituísse, já que atualmente Cármen Lúcia é a única ministra do STF, Barroso falou que “filosoficamente, sem fazer escolha pra vaga, eu sou defensor de mais mulheres nos tribunais”.

“Tem muitas mulheres e homens competentes, ninguém é indispensável. Tem muita gente boa para vir para cá, torço para o presidente ser como tem sido, quando mandou Cristiano Zanin e Flávio Dino, duas excepcionais escolhas. Ele tem acertado e tenho certeza de que vai acertar de novo.”

Isabella Cavalcante
Fonte: @consultor_juridico

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