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Morto por leoa: juiz mandou internar homem 30 dias antes de tragédia

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Via @metropoles | O juiz Rodrigo Marques Silva Lima, da 6ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), havia determinado a internação de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho, um mês antes dele invadir a jaula de uma leoa na capital paraibana e ser morto pelo felino.

A decisão, obtida pela coluna, foi tomada no âmbito de um processo criminal aberto após Gerson Machado quebrar o portão do Centro Educacional de Adolescentes (CEA), em João Pessoa, no início deste ano. Na ocasião, policiais militares precisaram usar spray de pimenta para conter o homem, que apresentava “alteração mental decorrente do uso de drogas”.

O juiz Rodrigo Lima relatou, baseado em laudo pericial, que Gerson Machado tinha esquizofrenia e que, por isso, “era inteiramente incapaz de compreender o caráter criminoso de seu ato”. Nesse sentido, o magistrado absolveu impropriamente o réu e determinou a medida de segurança.

“A internação, em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), é a medida mais adequada para resguardar a ordem pública e, principalmente, assegurar a Gerson de Melo Machado o tratamento médico-psiquiátrico intensivo e supervisionado de que necessita, em observância ao princípio da mínima intervenção penal e da dignidade da pessoa humana”, assinalou o juiz Rodrigo Lima.

O prazo de internação seria de, pelo menos, um ano. A medida, contudo, não chegou a ser cumprida.

Em 24 de novembro deste ano – três semanas após a determinação de internação e uma semana antes de Gerson Machado ser morto pela leoa –, o homem voltou a ser preso. Dessa vez, porque arremessou um paralelepípedo contra o para-brisa traseiro de uma viatura. No dia seguinte, contudo, em audiência de custódia, a juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá, da 1ª Vara Regional do Juízo de Garantias de João Pessoa, liberou o indivíduo.

O que aconteceu?

  • Um rapaz, identificado como Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morreu após invadir a jaula de uma leoa em João Pessoa, na Paraíba.

  • O jovem apresentava transtornos mentais. Ele acumulava 16 passagens na polícia, principalmente por dano e pequenos furtos.

  • Relatos de policiais que lidaram diretamente com Gerson mostram que ele repetia, de forma insistente, o sonho de ir à África e cuidar de leões.

Trajetória de abandono e pobreza

A morte de Vaqueirinho, que invadiu a jaula de uma leoa em João Pessoa, expôs uma trajetória marcada por pobreza extrema, transtornos mentais não tratados e abandono familiar. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que o acompanhou durante oito anos, diz estar “arrasada”.

Ao Metrópoles ela contou que Vaqueirinho, um jovem que cresceu sem apoio familiar e em condições severas, tinha o sonho de ir à África para “domar leões”. “Foi uma criança que sofreu todo tipo de violação de direito. Filho de uma mãe com esquizofrenia, com avós também comprometidos na saúde mental, vivia numa pobreza extrema”, relata.

A primeira vez que Verônica o viu, ele tinha apenas 10 anos. Na ocasião, ele foi levado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Conselho Tutelar, depois de ser encontrado andando sozinho em uma BR. Desde então, passou a integrar a rede de proteção da infância.

A mãe perdeu o poder familiar há anos, segundo a conselheira tutelar, mas continuava sendo procurada pelo jovem. “Ele, embora estivesse destituído, amava a mãe e sonhava que ela conseguisse cuidar dele. Evadia do abrigo e ia direto para a casa da avó e da mãe”, conta.

Ainda assim, a mãe, diante da condição mental, não conseguia assumir os cuidados do filho. “Ela muitas vezes foi levá-lo ao conselho e dizia que não era mais mãe dele e queria devolvê-lo. Ela também é vítima da mente doente.”

Sonho de “domar leões”

Desde pequeno, ele repetia o desejo de viajar para a África e “domar leões”. Verônica conta que o sonho foi mencionado por ele diversas vezes nas conversas no Conselho Tutelar.

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Homem invade jaula e é morto por leoa em João Pessoa

Em uma das situações mais graves, o adolescente tentou acessar um avião clandestinamente, episódio relatado por ela nas redes sociais.

“Você dizia a mim que ia pegar um avião, ir a um safari na África e cuidar dos leões. Você ainda tentou, mas agradeci a Deus quando fui avisada pelo aeroporto que você tinha cortado a cerca e tinha entrado no trem de pouso do avião da Gol. Dei graças a Deus, porque observaram pelas câmeras que havia um adolescente, antes que uma desgraça acontecesse”, escreveu.

Para Verônica, a tragédia deste domingo encerra uma vida marcada por desamparo. “A história dele é a de um menino que só queria conhecer a África para domar leões. Percebeu tarde demais que a leoa não era uma gata e que não conseguimos domá-la sem conhecimento. Mas ele não tinha juízo suficiente para isso”, lamentou.

Tácio Lorran
Fonte: @metropoles

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